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ST 11 - Histórias de mulheres conservadoras ao longo da ditadura civil-militar

 

Coordenação: Doutorando Eduardo dos Santos Chaves (UFSC) e Dra. Daniela de Campos (PUC-RS)

O simpósio busca discutir pesquisas relacionadas à história de mulheres conservadoras, bem como de organizações, grupos e/ou associações femininas de direita, inseridas no contexto político da última ditadura brasileira.  Pretende-se com este simpósio verificar a multiplicidade de comportamentos de mulheres de direita diante do autoritarismo. Durante a ditadura civil-militar essas mulheres cumpriram papéis diversos. Há casos de adesão ao golpe de 1964 e a posterior ditadura, assim como situações de desconfianças e até mesmo de distanciamentos dos antigos compromissos que tinham aproximado essas mulheres dos governos ditatoriais. Não podemos esquecer que, além da colaboração pura e simples, há as ambivalências, as ambiguidades e os paradoxos, que também apontam para a complexidade de comportamentos das sociedades sob regimes autoritários. O objetivo do simpósio é discutir mudanças e/ou permanências desses comportamentos ao longo dos 21 anos do regime. Serão bem vindos trabalhos que versem sobre trajetórias de mulheres, de entidades femininas, de movimentos femininos, de seções femininas de partidos políticos, etc.

 

BIBLIOGRAFIA

CHAVES, Eduardo dos Santos. "Protetoras da nação": a luta anticomunista da direita feminina gaúcha em tempos de autoritarismo. In: PRIORI, Angelo; MATHIAS, Meire; FIORUCCI, Ricardo. (Org.). O anticomunismo e a cultura autoritária no Brasil. Maringá: Prismas, 2017. p. 197-218.

CORDEIRO, Janaína. Martins. Direitas e organização do consenso sob a ditadura no Brasil: o caso da Campanha da Mulher pela Democracia (Camde). Nuevo Mundo-Mundos Nuevos, v. 1, p. 1-19, 2017.

___________. Direitas em movimento: a Campanha da Mulher pela Democracia e a ditadura no Brasil. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2009.
POWER, Margaret. Conexões transnacionais entre as mulheres de direita: Brasil, Chile e Estados Unidos. VariaHistória, Belo Horizonte, vol. 30, nº 52, p. 67-83, 2014. 
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PRESOT, Aline Alves. As Marchas da Família com Deus pela Liberdade e o Golpe de 1964. Dissertação de Mestrado em História. Programa de Pós-Graduação em História Social. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2004.
SESTINI, Dharana Pérola Ricardo. A “mulher brasileira” em ação: motivações e imperativos para o golpe militar de 1964. Dissertação de Mestrado em História. Programa de Pós-Graduação em História. Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008.
SIMÕES, Solange de Deus. Deus, Pátria e Família: as mulheres no golpe de 1964. Petrópolis: Vozes, 1985.

SOUSA, Reginaldo Cerqueira. República das mulheres de virtude: um estudo sobre as bases sociais de apoio ao governo dos militares (1964-1985). Tese de Doutorado em História. Programa de Pós-Graduação em História. Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2016.

STARLING, Heloisa Murgel.Os Senhores das Gerais: os novos Inconfidentes e o golpe de 1964. Petrópolis: Vozes, 1986.

Sessão 1 - Dia 21 de outubro de 2020, 14 horas

O Movimento Cívico da Mulher Cearense e o Golpe de 1964.

Jucelio Regis da Costa

O presente trabalho visa compreender o processo de criação do grupo de mulheres conservadoras cearenses, denominada de Movimento Cívico da Mulher Cearense - MCMC, inserido num contexto conjuntural (1964-1964) de profundo embate político-ideológico entre as esquerdas e as direitas. Nesta conjuntura política, vários grupos de mulheres conservadoras em diferentes estados brasileiros, como por exemplos, Rio de Janeiro (CAMDE), São Paulo (UCF), Belo Horizonte (LIMDE), etc., surgiram e se organizaram com o intuito de realizar ações colaborativas à desestabilização e deposição do João Goulart, presidente do Brasil. Ou seja, foram grupos efêmeros, que desempenharam ações que contribuíram efetivamente para a consumação do golpe de 1964, para a sua celebração e comemoração e também para a construção de alguns posicionamentos favoráveis aos primeiros anos do regime civil-militar (1964-1985). No caso do Ceará, o grupo de mulheres surgiu no contexto de celebração ao golpe de 1964, homenageando as Forças Armadas, tendo à frente a primeira dama do estado, Luíza Távora, esposa de Virgílio Távora. O MCMC desempenhou algumas ações políticas para a comemoração da deposição de João Goulart:  realizaram convites e solicitação de uma missa congratulatória na Catedral Metropolitana de Fortaleza como demonstração de apoio e saudação às forças Armadas, emissão de mensagens aos jornais liberais e conservadores, direcionadas às lideranças políticas do estado com o propósito de orientação para colaboração ao governo militar instituído com o golpe de 31 de março. As ações do MCMC eram divulgadas e acompanhadas pelos principais periódicos cearenses como O Povo, Correio do Ceará, O Nordeste, Unitário e Gazeta de Notícias, especialmente no tocante a realização da Marcha da Família com Deus pela Liberdade em Fortaleza, que naquele momento já havia se transformado em "Marchas da Vitória". Foram vários convites emitidos pelo MCMC nos periódicos, recepção de apoio de várias lideranças e autoridades ao acontecimento nos jornais. A pesquisa possibilitou analisar que as elites cearenses, especialmente as elites políticas não ficaram para traz no que diz respeito, as ações de conspiração e posteriormente, com a comemoração do golpe de 1964, recorrendo a imprensa para demonstração de seus apoios, tendo a imprensa como ator político na construção desses acontecimentos.

Palavras-chave: Golpe de 1964; imprensa; mulheres; marchas da vitória; Ceará.

"Mão dos pobres"? A atuação de Luíza Távora e suas relações entre Gênero, política e religião no Ceará (1960-1990).

Norma Sueli Semião Freitas

A presente pesquisa intenta realizar um estudo da atuação da primeira-dama Luíza Távora, buscando entender, a partir de sua figura pública, como ela mobilizava relações entre gênero, política e religião, durante décadas de 1960 e 1990, no Ceará. Nesse contexto, Luíza Távora foi uma mulher de destaque no campo das políticas públicas sociais; desenvolveu ações de cunho social que lhe atribuíram notoriedade como mulher e como primeira-dama. Por que e como Luíza representa uma mudança nas atuações de homens e mulheres no espaço público? O que, nela, é permanência nos modos de fazer política? Com quais recursos ela teatraliza sua figura pública? Como sua imagem privada (de esposa e rainha do lar) é trabalhada no interior dos discursos que querem apresentá-la como uma mulher moderna? Quais as outras personagens que se alinham ou se contrapõe a essa imagem erigida de mulher (e mãe dos pobres)? Luíza participou inicialmente como mediadora e, depois, como encarregada dos projetos de assistência social de Virgílio Távora, – influenciando em suas decisões e divulgando sua imagem através das ações sociais que conduzia–, tendo em vista que o Estado passou a possuir o controle do processo em seu governo, enquanto que anteriormente era a Igreja a articuladora das atividades de assistência à pobreza. A análise dessa figura pública permite problematizar as relações entre passado e presente, público e particular; assim como as maneiras como essa personalidade empreendeu ações interventivas na área social, como parte das políticas públicas da gestão do social. Assim, buscamos compreender as relações de poder que existem entre homens e mulheres, ligadas à cultura machista e contribuir para a historiografia por meio da abordagem de questões de poder relacionadas ao gênero, família, Igreja Católica e Estado. Além disso, busca-se refletir sobre como ocorreu o poder de influência da Igreja Católica no primeiro governo de Virgílio Távora e nas ações sociais deliberadas por Luíza, já que, no seu segundo mandato, o Estado tomou a frente da gestão do social. E para a realização desse estudo, o corpus documental constitui-se de entrevistas, cartas, documentos de órgãos oficiais (Estado e Igreja) e jornais (O Povo e o Nordeste). Nos jornais, além das reportagens, também encontramos diversas entrevistas concedidas por Luíza Távora, ao passo que a imprensa se apresenta como aparato para divulgação de suas ações. Já os estudos de Joan Scott (1995) nos fornecem embasamento teórico para analisar as fontes a partir da perspectiva de gênero e poder, por compreender as diferenças percebidas entre sexos e por ser visto como forma primeira de significar as relações de poder. A partir disso, buscaremos entender como são criadas normas de gênero e construídos discursos que mobilizam o gênero (mulher, mãe, caridosa) como estratégia política. Daí a importância de estarmos atentos ao modo como Luíza Távora aparece como “mãe dos pobres”, já que estamos diante de uma construção histórica e social ligada a determinado padrão de gênero que circulava à época, ao mesmo tempo que está ligado a valores católicos, ao assistencialismo, ao modo de fazer política tradicional.

Palavras-chave: Gênero, política, religião.

O conservadorismo de Estado durante o período do regime militar no Brasil: como as primeiras-damas contribuíram com esse projeto político.

Dayanny Deyse Leite Rodrigues

Por primeira-dama se convencionou denominar as esposas dos governantes, em especial aqueles em atuação no poder executivo. No decorrer dos séculos XX e XXI, o papel social da primeira-dama se constituiu enquanto uma figura marcada pelas relações de gênero e racionalizada para legitimar os anseios políticos do Estado. Na passagem da década de 1930 para 1940, um modelo de atuação para essa figura pública começou a ser delineado por Darcy Vargas, esposa do então presidente Getúlio Vargas, por meio de sua trajetória junto à serviços assistenciais. Em 1942, Darcy cria e assume a presidência do primeiro órgão governamental de assistência social do Brasil, a Legião Brasileira de Assistência – LBA. Aquelas que a sucederam no posto fizeram uso do modelo formulado para dá continuidade a atuação pública da primeira-dama, conseguindo perpetuar e propor novas formas e apropriação do primeiro-damismo. Nesse ínterim, este trabalho tem como objetivo apresentar e discutir as atuações das quatro esposas de presidentes atuantes durante o período do regime militar instituído no Brasil em 1964, Iolanda Costa e Silva, Scylla Médici, Lucy Geisel e Dulce Figueiredo, a fim de demonstrar  a existência, perpetuação e reapropriação do primeiro-damismo na conjuntura vivenciada, refutando a ideia de que estas primeiras-damas não tiveram uma atuação pública, fazendo com que o fenômeno do primeiro-damismo se esvaziasse. Caminhando no limiar da perpetuação do conservadorismo de estado e de um protagonismo pessoal, algumas dessas personalidades conseguiram colocar em prática um primeiro-damismo alinhado a governabilidade, bem como estabelecer novas ligações de sustentabilidade do fenômeno. O trabalho será desenvolvido sob a perspectiva da História Política dita “Renovada” e dos Estudos de Gênero”.

Palavras-chave: Conservadorismo; Primeira-dama; Primeiro-damismo; Gênero.

Conservadorimos e militância nas ditaduras em Portugal e no Brasil.

Allana Letticia dos Santos

Este artigo, resultado dos estudos realizados para a dissertação de mestrado, tem como objetivo discutir o contexto social em que as mulheres militantes estavam inseridas como também as suas atuações durante a ditadura militar, em Portugal e no Brasil. Para esse debate utilizaremos os boletins da Mocidade Portuguesa Feminina, que tinha como objetivo filiar a ideologia nacionalista e cristã a mentalidade das raparigas portuguesas, além disso esse boletim tinha como proposta enquadrar toda a juventude feminina entre os sete e os dezessete anos, sublinhando o sentido cristão na sua vida, nomeadamente no lar, na família e na sociedade. No que diz respeito ao Brasil, as reflexões serão direcionadas para as Marchas da Família com Deus pela Liberdade e os desdobramentos das mesmas, principalmente na cidade de Salvador. De antemão, considera-se que embora em países diferentes, as mulheres conservadoras, no período da ditadura militar, tinham como meta a preservação da família e dos bons costumes. Como aporte teórico recorre-se as discussões de Quinalha (2017) e Setemy (2019).

Palavras-chave: Conservadorismo; ditadura; militância; mulheres.

Em nome da família feliz: Gênero e família nas revistas Lições Bíblicas (1975-1999).

Viviane Teixeira Lima Nunes

Nos discursos religiosos de igrejas cristãs protestantes, o tema da família costuma ocupar um lugar especial, principalmente quando se trata da defesa de um determinado modelo familiar entendido como sagrado em oposição a outras concepções de família  possíveis. No caso do movimento pentecostal Assembleias de Deus do Brasil, um dos principais meios de defesa do modelo de família entendido como divino é a revista Lições Bíblicas. Esta é um impresso publicado trimestralmente pela Casa Publicadora das Assembleias de Deus (CPAD) e utilizada como material didático nas Escolas Bíblicas Dominicais. Ao longo dos anos, tal revista tem tido um papel essencial nos empenhos de construção da identidade assembleiana, sendo um meio de formação do fiel assembleiano e divulgação da doutrina e dos posicionamentos da igreja. A temática da família aparece no periódico dentro do recorte temporal aqui proposto como sendo uma preocupação urgente da igreja nas últimas décadas do século XX.  Procura-se assim, no espaço dessas revistas, definir e delimitar a concepção de família, disputando a ideia de uma “família feliz” ao, por exemplo, determinar os papéis de gênero dentro da instituição familiar. Ou seja, não bastava apenas apresentar o modelo de família considerado correto e defendê-lo como um mandamento divino. Passou-se a fazer uso da  ideia de “família feliz” não só para legitimar esse modelo, mas para torná-lo desejável, ambicionável. Nesse sentido, este trabalho tem como objetivo analisar e discutir os conflitos em torno da defesa de um ideal de família e de certos papéis de gênero nas revistas Lições bíblicas, buscando identificar as transformações nesse ideal e nas maneiras como essa defesa é feita ao longo do tempo.

Palavras-chave: Assembleias de Deus; gênero; família; felicidade; Lições Bíblicas.

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