ST 14 - Gênero, linguagens e violências no Brasil
Coordenação: Dr. Walter Valdevino do Amaral (UFU) e Doutoranda Michelle Silva Borges (UFU)
Social e historicamente construída, a violência de gênero encontra nas relações de poder e nas representações o sustentáculo de sua inteligibilidade imaterial e subjetiva, que, avocada ao campo das práticas tangíveis subjugam os corpos. Embora isso, há de se considerar que as relações de forças são sempre tensas e que, como propôs Foucault (2014), do outro lado, encontram-se resistências. Assim também, Michel de Certeau (2014) é excepcional ao trazer a astúcia como condição de resistência em condições de dominação e opressão e, sob esse interesse, é que o presente simpósio propõe contemplar análises voltadas à questão de gênero e a violência que dela é decorrente, mas, sobretudo, às práticas e táticas usadas pelos sujeitos promotoras de recognições de suas experiências e eventuais atos interventivos que lhe garantam a renitência necessária para se contrapor à noção de que são seus corpos instâncias das inscrições através das quais ressoam relações de alteridade e a produção de discursos empenhados em ditar seus usos e desusos. Nesse sentido, aceitam-se trabalhos do campo da História e áreas afins que contribuam para a ampliação do conhecimento acadêmico com base nas relações entre gênero, linguagens e violência.
BIBLIOGRAFIA
ALMEIDA, Suely de S. (org.). Violência de gênero e políticas públicas. Rio de Janeiro: Editora da UFRJ, 2007.
BUTLER, Judith P. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2017.
CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano: 1. Artes de fazer. Petrópolis: Vozes, 2014.
CHARTIER, Roger. A força das representações: história e ficção. Chapecó: Argos, 2012.
FOUCAULT, Michel. História da sexualidade 1: a vontade de saber. São Paulo: Paz e Terra, 2014.
OSTERMANN, Ana Cristina; FONTANA, Beatriz (orgs.). Linguagem, gênero, sexualidade: clássicos traduzidos. São Paulo: Parábola Editorial, 2010.
RAGO, Margareth. A aventura de contar-se: feminismos, escrita de si e invenções da subjetividade. Campinas-SP: UNICAMP, 2013.
Sessão 1 - Dia 21 de outubro de 2020, 14 horas
A mulher por trás da obra: Deborah Brennand em "Claridade".
Bárbara Magalhães Tavares Rodrigues; Walter Valdevino do Amaral
Com este trabalho, pretendemos compreender a poetisa Deborah Brennand através da sua escrita na obra “Claridade”, publicado no ano de 1996. Acreditamos que, através deste livro, podemos fazer uma leitura sobre a subjetividade da autora, uma vez que, suas páginas estão repletas de elementos que marcaram sua personalidade. Como sabemos, até fins do século XIX, os espaços da escrita, artes e movimentos artísticos, em geral, não eram destinados às mulheres, que, por sua vez, ficavam reservadas aos espaços domésticos e na subalternidade. Todavia, o advento da modernidade instaurada no Brasil, no início século XX, possibilitou que as mulheres passassem atuar com mais expressividade em espaços que não fossem seus lares. Acreditamos que, mesmo Deborah não tendo uma escrita com teor revolucionário e, sim, mais intimista, a pesquisa se faz necessária para uma maior compreensão acerca da biografia da poetisa e, também, visibilidade da mesma no campo da literatura pernambucana do século passado, visto que, pouco foi produzido sobre a mesma até o presente momento. Deborah Brennand foi uma poetisa recifense que ingressou na Academia Pernambucana de Letras em 2007, ocupando a cadeira de número 37. Para compreendermos e analisarmos a trajetória da escritora, utilizaremos como propostas teóricas e metodológicas, as contribuições do historiador Benito Bisso sobre biografia, a historiadora Mary Del Priore para compreendermos as problematizações acerca da escrita de biografias femininas e o historiador Roger Chartier a partir do conceito de representação e da relação entre a obra e autor/a.
Palavras-chave: Periódicos; Literatura; Biografia; Intelectuais.
Experiências que se cruzam nos processos-criminais: discursos, violência e gênero na comarca de 1ª. Instância da cidade de Senador Pompeu/CE .
Lucas Pereira de Oliveira
O presente resumo objetiva refletir, sob uma perspectiva histórica, os casos de violência cometidas contra/por as mulheres na comarca de Senador Pompeu/CE. Interessante ressaltar que as reflexões partem de duas produções que realizei, a monografia em 2012 e a dissertação em 2015. Na primeira produção, tratei sobre os crimes passionais cometidos entre os anos de 1988 a 2006, e na segunda produção, dediquei a analisar as narrativas que fizeram da violência uma forma de resolver suas conflitualidades entre o período de 1901 a 1930. Nesse sentido, mesmo que as duas pesquisas estejam localizadas em períodos distintos da história, diversas semelhanças puderam ser estabelecidas entre elas, qual seja: ciúmes, infidelidade, honra ferida, argumentação jurídica entre outras. As pesquisas foram realizadas com a análise de processos-criminais encontrados no Fórum Dr. Francisco Barroso Gomes, na cidade de Senador Pompeu/CE. Diante dos resultados encontrados em ambas as pesquisas, as falas dos personagens, as nuances das contradições, as interações entre público e privado, réus e vítimas, culpados e inocentes formaram parte dos discursos produzidos no Poder Judiciário.
Palavras-chave: Gênero; Violência; Judiciário.
Entre a cultura da honra e o crime: representações femininas no Diário de Pernambuco de 1850 a 1890.
Daniela Cavalcanti Bruto da Costa
O presente estudo, ainda em curso, O projeto civilizatório presente nos discursos europeus, agregava uma série de práticas comportamentais, associadas às ideias de progresso e civilização, fortalecidos enquanto discurso pelo desenvolvimento da atividade industrial e do imperialismo. No Recife, a realidade econômica e social diversa das realidades europeias - ainda éramos uma nação escravista, a exemplo dessa diferença- não foi impedimento para a utilização do discurso civilizatório, bastante utilizado pelas elites políticas, médicas, jurídicas, literárias e religiosas do Brasil Imperial. Ao longo do século XIX, uma sequência de “Códigos e Leis são promulgadas, regulamentando matérias específicas do direito, influenciadas pelas ideias liberais amplamente disseminadas na Europa.” (SOUZA, 2002, 104). Os novos códigos e leis, se apresentaram como essenciais na regulamentação dos comportamentos, determinando o que era adequado a rua e o que era adequado às casas. Os espaços públicos ganham importância, sendo sua arquitetura reflexo do discurso nela embutido. Particularmente, durante a administração do presidente da província Francisco do Rego Barros, (1837-1844), o então Barão da Boa Vista e depois Conde da Boa Vista, usando Paris, como referencial de cidade moderna modelo, grandes obras foram construídas no Recife promovendo importantes modificações, especialmente culturais. Diante do exposto, a ideia de progresso não atingia igualmente a todos os recifenses, sendo várias pessoas atingidas em suas práticas culturais pela perseguição, em nome de uma ideia de progresso que na prática nem sempre as beneficiou, muitas vezes as prejudicaram. Nesse sentido, o grupo que voltaremos os nossos olhares será o das mulheres.Entre o ideal de mulher e a realidade, abre-se um longo caminho pautado em ações de reforço desse papel civilizador e ao mesmo tempo civilizado da mulher, e a mulher real que circula na cidade civilizada, garantindo seu sustento, atuando hora como vítima, hora como autoras de crime. Levando-se em consideração também, que entre as ações criminosas das mulheres e os demais habitantes da cidade, existia a atuação da imprensa. Como instrumento “civilizador”, a imprensa pernambucana, aos poucos foi assumindo o papel de informar ações oficiais, abrindo espaço para o relato do crime, uma realidade em expansão com a urbanização. Estabelecidas as “regras” de uma cidade modernizada, os crimes representam não apensas as fissuras desse projeto, mas evidenciam as divergências entre homens e mulheres, em especial o crime cometido por mulheres. Durante a análise do Diario de Pernambuco, e de jornais de linha editorial diferente, ambos se revezam, ora como instrumento oficial, certamente interessado em não valorizar a ampla atividade criminosa, ora como oposição, pende a valorização da publicização da atividade criminosa como instrumento de desvalorização, enfraquecimento das ações do governo. Em meio a anúncios, publicações oficiais, publicações particulares e editoriais, existem linhas não escritas materialmente, pistas sobre o silêncio e a voz feminina, vestígios das suas relações entre si e com os homens. São muitas as histórias que constituem Pernambuco oitocentista, apenas nos aproximando de algumas delas, será possível conhecer sua História.
Palavras-chave: Mulheres; Representação; Crime.
“QUE DIREI DE MIM SE ME PERGUNTAREM QUEM SOU?”: histórias e subjetividade na escrita de Fátima Quintas.
Luiza, Vieira Cavalcanti; Walter Valdevino do Amaral
Maria de Fátima de Andrade Quintas é uma antropóloga nacionalmente conhecida por sua atuação nas Ciências Sociais. Nascida na cidade do Recife, em 28 de fevereiro de 1944, sua trajetória foi acompanhada por um midiático destaque na atuação acadêmica que vem exercendo. No ano de 2003, tornou-se imortal pela Academia Pernambucana de Letras e, alguns anos depois, foi eleita presidente desta instituição, tornando-se a primeira mulher a ocupar tal cargo. A sua obra mais recente foi publicada em 2018, trata-se de uma autobiografia, construída a partir de recortes do seu diário. As obras de Fátima Quintas apresentam temáticas variadas, tratando-se tanto de temáticas acadêmicas como de suas subjetividades. Com este trabalho, nos propomos a analisar o prisma subjetivo da intelectual, problematizando aspectos de sua vida e obra a partir da ótica dos estudos de gênero. Para tal finalidade, utilizamos como principais fontes três de seus livros, que são escritos em primeira pessoa: “Alfenins e Alfinetes (fragmentos)” (2008), “Realejos e Cristais” (2010) e “Tempos Partidos (memórias)” (2018). Assim, buscamos estabelecer um entrecruzamento a partir do que a mesma fala sobre si e sobre o mundo com o que sua trajetória e posição sociocultural apontam sobre ela. Ademais, como aportes teórico-metodológicos, utilizamos Judith Butler, para definição do conceito de gênero e, Cecil Jeanine Albert Zinani, para a problematização entre o feminino e a subjetividade através da escrita.
Palavras-chave: História, Gênero, Literatura.
Das construções as invisibilidades: narrativas e apresentações nas midias sociais.
Cibely Cristina de Holanda; Bruna Caroline da Silva.
As Construções dos meios de comunicação e suas linguagens tem por finalidade discutir as ações de representações e visibilidades dos/as sujeitos/as e as estruturas que estão sendo desenvolvidas. Em uma sociedade cujo o capital é quem escolhe as narrativas individuais, se faz necessário produtos serem desejados para o consumo, colocamos em pautas os corpos, mentes, gênero, sexualidade e questões raciais subalternas a essa padronização de esteriótipos, que implica na falta de diversidade nas redes de comunicação sociais, permanecendo assim uma supremacia. A invisibilidade das mulheres negras, lésbicas, gordas e trans é a comprovação da ausência nos agentes trasnformadores em sociedade, desse modo, se faz necessário discutir como estão sendo estruturados e quem está estruturando esses espaços para essas pessoas. No que tange a discussão por espaços tomados vêmos apenas trajetórias de silêncio por trás de uma “representação”, um poder institucional que resulta em lucro, porém sem os/as protagonistas. A visibilidade tem o poder da criação do novo a ser diálogado as modificações na cultura nos\as sujeitos/as, é de suma importância promover essas mudanças em todos os canais de comunicação, sobretudo nas redes sociais aonde estamos com o maior número de consumo em tempo maior também. As configurações em nosso cenário atual sobretudo político social apressa uma ação transformadora de modo que possamos (re)inventar as representações e seus protagonismos. Os comportamentos sociais atuais são oriundos de uma subversão das redes de comunicação que produzem opiniões negativas e positivas atreladas aos assuntos importantes, essas óticas particulares no entanto não ampliam os olhares e debates acerca das individualidades e identidades. Como aporte teórico-metodológicos utilizaremos a análise de gênero, visibilidade, representações, movimentos sociais políticos das intelectuais Bell Hooks Chimamanda Ngozi Adichie e Sueli Carneiro.
Palavras-chave: Gênero. Representatividade. Redes Sociais.
A LEGITIMAÇÃO DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER NOS CÓDIGOS CRIMINAIS BRASILEIROS: das Ordenações Filipinas à Constituição Cidadã de 1988.
Deane Soares Figueiredo
O ordenamento jurídico confere aos cidadãos a chamada segurança jurídica. Os princípios constitucionais, que subjazem às leis, orientam a elaboração dos instrumentos normativos na formação da cidadania. A tutela dos direitos das mulheres nasce somente a partir do momento em que estas alcançam a qualidade de cidadãs. A presente pesquisa objetiva discorrer sobre como estes direitos foram tratados nos códigos criminais brasileiros, desde as Ordenações Filipinas até a edição da vigente Constituição de 1988, popularmente conhecida como Constituição Cidadã. Trata-se, pois, de uma pesquisa documental, adotando os textos legais como fontes primárias, de orientação foucaultiana. A compreensão desta trajetória histórica mostra-se bastante relevante aos/às estudiosos(as) dos direitos das mulheres, à medida em que compreendemos como as leis brasileiras foram formuladas ao longo do tempo, para entendermos a atual legislação pátria. O tema é muito pertinente, sobretudo, nos tempos atuais, nos quais a democracia parece estar em perigo e as mulheres lutam, incessantemente, pela garantia de seus direitos.
Palavras-chave: Direitos das mulheres; constituições brasileiras; cidadania