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ST 18 - Ensino de História, diversidade e currículo

 

Coordenação: Mestranda Elissânia da Silva Oliveira (UFC) e Mestra Marlia Aguiar Façanha (UFRN)

No geral, aprendemos e ensinamos uma História protagonizada por grandes homens brancos e que invisibiliza ou silencia as mulheres, os negros, os indígenas, os lgbt’s nos conteúdos e materiais didáticos, bem como sabemos que decisões sobre currículo sempre estiveram ligadas às instituições de poder, que monopolizam as práticas sobre as políticas educacionais e reproduzem modelos culturais hegemônicos. Sabemos , ainda, que professoras e professores já ministram suas aulas a partir da análise dessas categorias e os estudantes lançam a discussão do tema como demanda aos docentes. O debate sobre gênero, sexualidade e das questões étnico-raciais são, a nosso ver, possibilidades teóricas ancoradas nos estudos anticoloniais e de gênero a fim de pensar a escola numa perspectiva de igualdade e respeito à diversidade, para que se possa interromper com o ciclo vigente de silenciamentos, injustiças e desigualdades, mudando a forma de planejar, selecionar e abordar os conteúdos no ensino de História. Dessa forma, esse ST pretende debater: mecanismos anticoloniais do ensino, racismo e machismo no ambiente escolar, currículo e práticas exitosas em combate aos preconceitos e discriminações.

 

BIBLIOGRAFIA

GOMES, Nilma Lino.  Cultura Negra e educação. Revista Brasileira de Educação. v.23, p. 75-85, 2003.

LOURO, G. L.Gênero, sexualidade e educação: Uma perspectiva pós-estruturalista. Rio de Janeiro. 16 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014.

MOREIRA, Antônio Flávio Barbosa, CANDAU, Vera Maria. Indagações sobre currículo: currículo, conhecimento e cultura. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2007.

PERROT, M. Os excluídos da História: operários, mulheres e prisioneiros. São Paulo: Paz e Terra, 2017.

SANTOS, Sales Augusto dos (Org.). Ações afirmativas e combate ao racismo nas Américas.  Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2005.

SILVA, Tomaz Tadeu. Currículo e identidade social: territórios contestados. In. SILVA, Tomaz Tadeu. (org.). Alienígenas na sala de aula: uma introdução aos estudos culturais em educação. Petrópolis: Vozes, 2011.

UNESCO. Educação como exercício de diversidade. Brasília: MEC, ANPEd, 2005.

Sessão 1 - Dia 21 de outubro de 2020, 14 horas

Exercitando imagens: representações de mulheres e iconografia nos livros didáticos de História.

Rebecca Maria Queiroga Ribeiro

O presente trabalho tem como objetivo introduzir um debate a respeito das imagens que são utilizadas nos livros didáticos de História. Tem-se como base a coleção “História”, de Ronaldo Vainfas, Sheila de Castro Faria, Jorge Ferreira e Georgina dos Santos, da Editora Saraiva, aprovada pelo PNLD 2018. Discutem-se as imagens atribuídas às mulheres no contexto da Inquisição Moderna, levando em consideração, principalmente, aquelas utilizadas pelos exercícios nos livros didáticos. Este trabalho deriva da pesquisa de mestrado efetuada durante os anos de 2018 a 2020, no Programa de Pós-Graduação de História da Universidade de Brasília.
O uso de imagens suscita discursos e representações que mobilizam o imaginário e contribuem para o aprendizado histórico de alunas e alunos. É necessário levar em consideração de que forma os livros didáticos utilizam as imagens em articulação com seu conteúdo. Essa análise conduz ao entendimento das representações acionadas pelos autores, editores, diagramadores e tantos outros atores responsáveis pelos livros didáticos.
Entende-se que é possível, a partir da análise das imagens utilizadas nos exercícios, entender de que forma os discursos são mobilizados para auxiliar as alunas e alunos no processo de compreensão histórica. O entendimento sobre o passado e sua relação com o presente constrói-se, também, por intermédio de associações imagéticas, principalmente, o que Elias Saliba chama de imagens canônicas. Ou seja, imagens que estão imbricadas no imaginário coletivo, imagens utilizadas repetidas vezes em contextos educativos e midiáticos, de modo a constituírem pontos de referência inconsciente.
No contexto da Inquisição Moderna, considera-se de que forma os exercícios tecem suas narrativas a respeito da figura de mulheres durante o período de perseguição e caça às bruxas nos séculos XV e XVI. Compreende-se que a utilização de imagens que remetem à violência sem problematização contribui para a perpetuação de um discurso de imobiliza mulheres em situações derrogatórias e subalternas. Questiona-se se os livros didáticos contribuem para os debates sobre o contexto histórico das imagens utilizadas, de forma a historicizar a iconografia.
Analisar tais imagens e seu uso no contexto dos exercícios permite compreender de que forma a coleção didática constrói suas relações com o passado, e que tipo de discursos e representações são mobilizadas para o conhecimento histórico. A partir dessas reflexões, propõe-se a utilização de imagens que contribuem para uma história do possível, como diz Tânia Navarro-Swain. Uma narrativa histórica que possibilite a compreensão das identidades e protagonismos de mulheres ao longo da história. Dessa forma, contribui-se para a construção de uma educação libertadora, abrindo espaço para debates sobre os preconceitos, violências e apagamentos sofridos pelas mulheres na sociedade. A partir disso, torna-se possível a construção de uma sociedade preocupada com a equidade, respeitando as diferenças entre todas e todos.

Palavras-chave: ensino de história; história das mulheres; livros didáticos; imagens; representações.

Rosa para as meninas, azul para os meninos: a presença do discurso da ideologia de gênero nas aulas de História das escolas públicas da Grande Florianópolis no tempo presente.

Robson Ferreira Fernandes

Este estudo direcionado se conecta com a proposta do ST em foco, porque situa o debate dos conceitos de gênero e sexualidade com as relações do ensino de História e as demandas discursivas da chamada "ideologia de gênero" presentes na Educação Básica. Essa apresentação faz parte de uma continuidade dos estudos realizados para a dissertação do mestrado, através de um recorte delimitado e tem como objetivo analisar a presença das narrativas da ideologia de gênero que são inseridas e disputadas nas aulas de história da educação básica das escolas estaduais da Grande Florianópolis. Contemporaneamente, o rol conservador dos projetos de lei vinculados ao “Escola sem Partido” (ESP) se fundamenta na premissa do debate sobre gênero e sexualidade nas escolas, que tem sido abordado pelos partidários do movimento como o grande inimigo a ser combatido pelas famílias e “cidadãos de bem”. Empiricamente, almeja-se inviabilizar e mesmo criminalizar todas as propostas pedagógicas conduzidas por professoras e professores que abordem temas como desigualdades de gênero, diversidade sexual, o combate ao preconceito, ao sexismo e à LGBTfobia. Mais do que isso, materiais didáticos com respaldo crítico e reflexivo sobre esses temas, constantemente são alvo de ataques pelos/as defensores/as do movimento ESP. Seus/uas apoiadores/as vêm afirmando que esse tipo de material e discussão “doutrinam” estudantes, forçando-os a aceitar a “ideologia de gênero”.  A expressão “ideologia de gênero” não é nova, mas vem ganhando força no cenário nacional e internacional para identificar, de maneira tendenciosa, preconceituosa e conservadora, pesquisas, práticas e debates que problematizem as relações de poder hierárquicas ou de opressão entre os gêneros, a heteronormatividade compulsória dos espaços escolares e a LGBTfobia presente em nossa sociedade. Como vem sendo inserido pelos partidários do “Escola sem Partido”, o combate à “ideologia de gênero” apaga as demandas das e dos educadores/as que compreendem as dinâmicas do cotidiano das escolas, suas emergências e seus problemas, e que se veem diariamente desafiados/as por questões de gênero e sexualidade que nascem em suas salas de aula e em todo território escolar. Supor que essas temáticas são “levadas” para a escola por materiais didáticos ou atividades pontuais é demonstrar total desconhecimento do contexto escolar e de seus conflitos, que existem justamente porque a escola – especialmente a escola pública brasileira – é plural e diversa. Portanto, pensar as relações narrativas dos/as docentes das escolas estaduais da Grande Florianópolis que já se depararam com a presença do discurso da ideologia de gênero em suas práticas, e tiveram que se submeter ao silenciamento, medo, assédio, perseguição e violência.

Palavras-chave: Ideologia de Gênero; Ensino de História; Gênero e Sexualidade.

Respeito e acolhimento na escola, o nome social é um direito

Mestra Marlia Aguiar Façanha

Este trabalho visa analisar os caminhos e entraves na consecução das legislações sobre o uso do nome social para estudantes transexuais e travestis e a sua implementação nas escolas do estado do Ceará. A discussão se dará a partir da busca por efetivação da lei no contexto do trabalho da equipe de Educação em Direitos Humanos Gênero e Sexualidade da Secretaria de Educação- SEDUC, como a inserção do campo nome social no SIGE, vídeo tutorial sobre o preenchimento e formação para a comunidade escolar. A importância da escola na construção de uma sociedade mais justa e igualitária para todes começa pelo ambiente escolar se transformando num espaço de maior acolhimento e respeito à diversidade, e esse é o objetivo do conjunto de ações realizadas a partir das legislações específicas.

Palavras-chave: Educação; nome social; diversidade na escola.

Ensino de História e diversidade cultural: perspectivas de descolonização do currículo através da inserção da trajetória de intelectuais negras como conteúdo didático.

Joelma Dias Matias

A história e cultura do negro no Brasil quase sempre são transmitidas de forma equivocada, reduzidas a episódios da escravidão, causando muitas vezes a baixa autoestima dos alunos negros, sem contar a falta de preparo da maioria dos professores.
Nessa perspectiva, para ressaltar a importância da história e cultura negra, foi promulgada a Lei 10.639/03 que normatiza a inclusão de conteúdos da história e cultura afro-brasileira nos currículos da educação brasileira, de forma obrigatória
Neste trabalho, refletiremos sobre as possibilidades de uso didático da trajetória de vida da intelectual negra Beatriz Nascimento, como forma de dar visibilidade ao protagonismo do negro na história do Brasil. Dessa forma, este trabalho terá como objetivo apresentar a trajetória de vida da intelectual negra Maria Beatriz Nascimento como proposta de ensino sobre conteúdos de História e cultura afro-brasileira e africana à luz do que orienta as DCNs para as Relações Étnicos-raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana que, segundo Nilma Lino Gomes (2012) exige a mudança e prática de descolonização dos currículos da educação básica e superior em relação à África e aos afro-brasileiros. Ao se trabalhar com as trajetórias de intelectuais negras, como Beatriz Nascimento, no ensino de História, levando em consideração os pressupostos das Diretrizes Curriculares Nacionais para as Relações Étnicos-raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana (2004) e da Lei 10.639/03, temos a possibilidade de divulgar a atuação de mulheres negras em diferentes áreas do conhecimento e possibilitar o reconhecimento, por parte dos alunos negros, de pessoas que contribuíram de forma significante para a construção da sociedade brasileira e que podem servir de inspiração e exemplo para a reversão de estereótipos e preconceitos contra a população negra.

Palavras-chave: Ensino de história, Beatriz Nascimento, Currículo.

Racismo recreativo: brincadeiras e piadas racistas no ambiente escolar.

Elissânia da Silva Oliveira

A preocupação primeira deste trabalho é entender como as imagens negativas sobre os negros difundidas e naturalizadas pela sociedade adentram e se estruturam no universo escolar em forma de humor ou irreverência, bem como compreender como o racismo recreativo está presente nas relações do cotidiano e qual o significado dessas ações tanto para quem faz quanto para quem é alvo desse tipo de humor. Assim analisar como esses atores reproduzem as brincadeiras e quais os significados que dão às suas ações buscando perceber como esses significados ganham aderência nas internalizações mentais e se esse ator social pode ter a intencionalidade, seja ela velada ou explícita de cometer racismo, ou se essa reprodução é inconsciente ou consciente. 

Palavras-chave: Racismo; Piadas racistas; Escola.

O Quebra de Xangô no Ensino de História: a educação das relações raciais e étnicas no Programa de Residência Pedagógica (2018-2020)

Andresa Porfírio Gomes

Este trabalho busca compartilhar e discutir as experiências obtidas no Programa Residência Pedagógica (P. R.P.), realizado entre 2018-2020, pelo curso de História-licenciatura da Universidade Federal de Alagoas/UFAL, apresentando as implicações didático-metodológicas para a educação das relações étnico-raciais no ensino de História, numa sala de 9º Ano do Ensino Fundamental de uma escola da rede pública da educação básica do estado de Alagoas, em que se utilizou a temática sobre o Quebra de Xangô e a História de Alagoas. Os objetivos são: evidenciar no Currículo Nacional de História na educação básica, a inclusão de temas referentes à diversidade cultural e étnica, analisar como ocorreu a aprendizagem histórica acerca da História de Alagoas e das questões raciais e étnicas, assim como, temas sobre as religiões de matriz africana previstas na lei nº 10.639/2003 da educação básica. A metodologia utilizada se baseou nas ideias de Consciência Histórica (RÜSEN, 1992) para o desenvolvimento das atividades e para analisar o aprendizado dos estudantes, a utilização de slides para mostrar charges e imagens da época sobre o Quebra e suas marcas na história e memória local, inclusive fotos da “Coleção Perseverança”, que se constitui de objetos religiosos, também as obras produzidas que abordam a questão, música e a indicação de um documentário para levantar questionamentos sobre racismo e intolerância religiosa. Resultados alcançados: as aulas dada foram recebidas pelos estudantes de forma positiva e questionadora, onde mostraram compreender e discutir as discussões sobre as relações étnico-raciais, os preconceitos e a intolerância religiosa presentes na sociedade brasileira desde o período da colonização até os dias de hoje, o que contribuiu para que os estudantes refletissem sobre a necessidade de superar esses preconceitos já cristalizados e naturalizados ao longo da história. Considerações finais: Buscou-se com essa atividade realizada em sala de aula, discutir, analisar e refletir acerca das questões das relações étnico-raciais, questões estas que são tão emblemáticas no estado de Alagoas e pouco trabalhadas e problematizadas em aulas de História.

Palavras-chave: Residência pedagógica; Ensino de História; lei nº 10.639/2003; Quebra de Xangô

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