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ST 20 - História das mulheres: fontes e temas

 

Coordenação: Mestra Ana Cecília Farias de Alencar (UFC)

Este simpósio tem por objetivo reunir as pesquisas com as fontes documentais tanto oficiais como privadas para o estudo das mulheres, que apesar das dificuldades enfrentadas pelos historiadores no trato e manuseio da documentação devido em grande parte a sua fragmentação, não se pode falar de uma ausência delas. O surgimento do campo da história das mulheres foi um dos fatores que impulsionou as mais diversas pesquisas, como as desenvolvidas com os processos de inventários, testamentos, cartas de sesmarias, livros de notas, livros eclesiásticos, processos inquisitoriais, livros de querelas, cartas, diários, dentre outros. Dessa forma, buscaremos compartilhar as experiências metodológicas, a fim de conhecer o papel das mulheres dentro do xadrez da família e fora dela. Por fim, percebe-se que os caminhos da pesquisa histórica revelam que uma história do feminino é possível e cabe aos historiadores dar luz a elas com suas pesquisas.

 

BIBLIOGRAFIA

GONÇALVES, Andréa Lisly. História & gênero. Belo Horizonte: Autêntica, 2006.

DEL PRIORE, Mary (org.). História das Mulheres no Brasil. São Paulo: Contexto/Unesp,. 1997.

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FURTADO, Júnia Ferreira. Chica da Silva e o contratador de diamantes. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.

NIZZA DA SILVA, Maria Beatriz. Sistema de casamento no Brasil colonial. São Paulo: T. A. Queiroz/Edusp, 1984.

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PINSKY, Carla B.; PEDRO, Joana M. Nova história das mulheres no Brasil . São Paulo: Contexto, 2012.

SAFFIOTI, Heleieth I. B. Gênero, patriarcado, violência. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2004.

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SOUZA, Laura de Mello e.(org). História da Vida Privada no Brasil: Cotidiano e vida privada na América Portuguesa. São Paulo: Companhias das Letras, 1997.

VAINFAS, Ronaldo. Os trópicos dos pecados: moral, sexualidade e imagens femininas. Rio de Janeiro: Campus, 1986.

Sessão 1 - Dia 21 de outubro de 2020, 14 horas

As várias representações de uma rainha: O protagonismo de Catarina de Aragão (1485-1536) na perspectiva  da História das Mulheres.

Marcos de Araujo Oliveira

O presente trabalho busca analisar novas formas de representação de Catarina de Aragão (1485-1536), princesa espanhola e primeira esposa de Henrique VIII (1491-1547), rei da Inglaterra. A pesquisa contém além do referencial historiográfico sobre o tema que abrange estudos voltados a mulheres medievais e a visão de protagonismo feminino proporcionada pelo campo de estudos da História das Mulheres, novas abordagens metodológicas ao adotar como fontes discursos literários e audiovisuais, para debate da construção da imagem acerca da princesa espanhola. Neste sentido, enfatiza-se as representações de Catarina através da obra literária Catarina, a viúva virgem (2001) da romancista Jean Plaidy e a série The Spanish Princess (2019- Atualmente) da rede televisa Starz. A escolha dessas duas fontes, cuja capacidade de alcance consegue abranger vários públicos, tem como intuito observar como as narrativas e o imaginário sobre essa figura se modificam ao longo dos anos, revelando novos contornos nos mais variados discursos midiáticos e culturais que buscam retratar eventos históricos. Sendo assim, o diálogo do historiador com textos literários e também obras audiovisuais são relevantes pois, demonstram a importância da História das Mulheres enquanto campo de estudos, por elucidar questões de gênero e representatividade feminina, e legitima novos protagonismos a figuras medievais antes coadjuvantes. É possível apontar que tal protagonismo, evidencia com mais força a trajetória de Catarina de Aragão na contemporaneidade, mulher que atravessa os discursos históricos e ganha páginas de romances históricos ou as telas de TV, não mais como a gentil esposa do rei, mas sim como uma princesa – e rainha - corajosa, inteligente e extremamente determinada.

Palavras-chave: Catarina de Aragão, História das Mulheres, romance histórico, TV.

Quando o útero ficou histérico: concepções médicas acerca das influências do útero na psique feminina em Erário Mineral de Luís Gomes Ferreira no setecentos.

Gessica de Brito Bueno

A finalidade dessa pesquisa é perscrutar por que desde a Antiguidade até por volta do século XIX a menstruação foi considerada um excremento impuro pelos doutos, se enquadrando na Teoria Humoral Hipocrático-Galênica, como também compreender, por meio da obra Erário Mineral (1735) de Luís Gomes Ferreira, por  que o ciclo menstrual seria um fator primordial responsável por desencadear  transtornos mentais nas mulheres, exercendo influência sobre o comportamento delas, onde os diagnósticos conferiam a presença da loucura mais em mentes femininas do que em masculinas, devido ao caráter maligno do sangue menstrual, e a mulher, sendo definida com uma moral desviada pela sua própria natureza, seria capaz de cometer assassinatos durante seu período menstrual. A metodologia será a qualitativa, descritiva e explicativa. Concluiu-se até o momento da pesquisa que Segundo Porter e Vigarello (2008, p. 443), “Não é aberrante fazer do “estado” dos fluídos, indícios do “estado” do corpo”, ou seja, a comparação da menstruação como excremento ou fluido venenoso é devido ao mistério no interior dos corpos, que só examinava os líquidos dos enfermos, delegando, nesse caso, à mulher, uma espécie de doença incurável que a acometia. A crença de que a mulher tinha uma moral desviada é devido ao funcionamento particular de seu corpo, esse poderia apresentar manifestações de seu gênero, com consequências que poderiam levá-las a fazerem mal aos homens, mesmo matá-los intencionalmente. Os estudos sobre a fisiologia desvendaram os “mistérios” relacionados a constituição feminina, principalmente em relação a menstruação, mas a mulher ainda terá de enfrentar muitos estigmas para se inserir no campo social, da política e do trabalho devido a esses discursos misóginos no campo da ciência médica, por isso se faz necessário discutir sobre essas temáticas para compreender o desdobramento da história da mulher nas sociedades brasileiras.

Palavras-chave: Menstruação; Medicina; Século XVIII.

As Cartas de Sesmarias – possibilidades para o estudo de gênero no período colonial na capitania do Siará Grande.

Leiliane Kecia Magalhães

As Cartas de Sesmarias são documentos pelos quais se fazia a solicitação de terras a Coroa Portuguesa, uma exigência do Sistema Sesmarial, o qual determinava que todas as terras pertenciam ao Rei, podendo ser doadas por este, muito embora ainda permanecessem sob sua jurisdição; foi um modelo transplantado de Portugal e que vigorou no Brasil até 1824, quando a terra passou a ser propriedade privada do indivíduo. As Cartas referentes a capitania do Siará Grande podem ser acessadas virtualmente através da Plataforma S.I.L.B (Sesmarias do Império Luso – Brasileiro) e estão disponíveis em dois CD-ROM, organizados pelo Arquivo Público do Estado do Ceará, contendo as datas de sesmarias do Ceará e índices das datas de sesmarias, digitalizadas dos volumes editados nos anos de 1920 a 1928. Dos 1449 pedidos feitos ao Rei, 210 contaram com a participação das mulheres, quer seja sozinhas, em conjunto com homens ou com outras mulheres, por vezes requerendo mais de uma sesmaria. Os pedidos eram realizados por escrito, expedidas pelo Capitão-mor, Governador das Capitanias, contendo o nome do requerente, o lugar de sua moradia, a localização geográfica da terra solicitada e a justificativa da solicitação, uma fonte profícua não só para identificar homens e mulheres, senhores e senhoras de terras, no período colonial, denotando que a posse de terras por mulheres não é um dado contemporâneo, e sim sua análise, como também evidencia as relações de poder exercido por estas, em específico na capitania do Siará Grande, uma vez que o acesso à terra se transformara em um elemento importante de poder. A análise das Cartas de Sesmarias permite visibilizar a mulher no período colonial para além do estereótipo de reclusa e fornece dados sobre as possíveis estratégias que essas mulheres traçaram para obter e defender as terras solicitadas, integrando desse modo a engrenagem do projeto colonizador português tornando essas terras tidas como vazias em fonte de lucro para o Império Luso.

Palavras-chave: Capitania do Siará Grande: Cartas de Sesmarias; Mulheres.

“Como devem e não devem ser as mulheres”: representações femininas nas páginas dos jornais na Fortaleza oitocentista.

Walter de Carvalho Braga Júnior

Neste trabalho analisamos os discursos reproduzidos sobre as mulheres em periódicos de grande circulação na cidade de Fortaleza durante o século XIX. Nas páginas dos jornais, entre noticiários, cartas publicadas e folhetins, encontramos diversas representações sobre como homens e mulheres deveriam ser e fazer, mas acima de tudo, o que as mulheres não deveriam ser. Desta forma é realizado um esforço para civilizar comportamentos dos moradores da cidade, mas que se direcionava principalmente para o controle e punição da feminilidade “anormal”. Através da análise dos periódicos Pedro II e O Cearense entre os anos de 1840 a 1889 encontramos todo um conjunto de discursos que conferia um grau de anormalidade às mulheres que não se enquadrassem no modelo idealizado de feminilidade dócil e subordinada ao masculino. Estas “feras” punham em risco as hierarquias estabelecidas ao materializar alguns dos grandes medos masculinos: o infanticídio, o adultério feminino e a morte por mãos femininas.

Palavras-chave: Periódicos, discurso, feminilidade.

Gênero, resistência e identidade: Imigrantes espanholas na cidade de Belém (1890 - 1910).

Aline de Kassia Malcher Lima

A imigração espanhola no Pará faz parte de uma corrente imigratória para o Brasil, próprio de um período de prosperidade econômica da região nos fins do século XIX. As espanholas chegavam à cidade por meio das cartas de chamada enviada pelos conterrâneos estabelecidos na cidade, por meio das passagens gratuitas, membros da família que imigrava ou simples trabalhadoras em busca de sobrevivência. Este trabalho analisa a inserção das mulheres espanholas nos fluxos migratórios para a cidade de Belém entre os anos de 1890 a 1910, por meio de um levantamento sistemático de fontes cartorárias, judiciais e periódicos da capital paraense. Nesse sentido, a problemática desta pesquisa está em compreender como as distinções e desigualdades de gênero afetaram a imigração espanhola feminina. A própria comunidade de imigrantes relegou a um silenciamento quanto à atuação destas mulheres nas associações de imigrantes (Unión Hespanhola do Pará e Centro Galaico del Pará). A documentação evidencia o sofrimento com as opressões de gênero da época, sendo diminuídas por sua condição de mulher. Em conclusão a presença das espanholas na cidade de Belém deve ser tomada a partir das suas múltiplas experiências. Atraídas pelas políticas de propaganda, fugindo das crises locais emigravam sob a expectativa de riqueza ou de simples sobrevivência humana.

Palavras-chave: Gênero; Imigração; Cidade; Belém.

Uma história das mulheres no período colonial cearense: fontes e temas

Ana Cecília Farias de Alencar

Essa comunicação tem por objetivo apresentar os trabalhos das três últimas décadas publicados acerca da atuação das mulheres no período colonial cearense, e, ao mesmo tempo mostrar as principais fontes documentais utilizadas para o seu desenvolvimento. Apesar das dificuldades enfrentadas pelos historiadores (as) no trato e manuseio da documentação devido em grande parte a sua fragmentação, não se pode falar de uma ausência delas. O surgimento do campo da história das mulheres foi um dos fatores que impulsionou as mais diversas pesquisas, como as desenvolvidas com os processos de inventários, testamentos, cartas de sesmarias, livros de notas, livros eclesiásticos, processos inquisitoriais, livros de querelas, cartas, diários, dentre outros. Dessa forma, compartilharemos as experiências metodológicas, a fim de conhecer o papel das mulheres dentro da sociedade colonial cearense. Por fim, percebe-se que os caminhos da pesquisa histórica revelam que uma história do feminino é possível e cabe aos historiadores dar luz a elas com suas pesquisas.

Palavras-chaves: Mulheres; fontes documentais; historiografia cearense.

Mutilação Genital Feminina e Migração:  Cultura, violência e violação dos Direitos Humanos e da Mulher/ criança no tempo presente

Adriana de Carvalho Medeiros

O termo Mutilação Genital Feminina (MGF) foi adotado desde 1991 pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para identificar diferentes tipos de procedimentos que envolva a remoção parcial ou total da genitália externa feminina e/ ou qualquer outro dano aos órgãos genitais femininos por razões não médicas realizados em mulheres e meninas. Neste sentido, ao adotar o termo “mutilação” ficou expresso a ideia de violência contra mulheres e o compromisso dos organismos internacionais em erradicar esta prática que esta presente em 30 países africanos e asiáticos, mas também em comunidades na Europa e América Central e do Sul. Estima-se que cerca de 500 mil mulheres no mundo foram submetidas ao procedimento e que cerca de 8 mil meninas entre 04 e 12 anos são submetidas diariamente a MGF. Neste contexto, a MGF relaciona-se diretamente aos índices de mortalidade infantil, a saúde reprodutiva e o nível de igualdade de género alcançado nestas comunidades. Atualmente, as Organização das Nações Unidas (ONU), a Amnistia Internacional e Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) e Parlamento Europeu reconhecem a MGF como uma violação dos direitos da Mulher e da Criança, e por isso, alguns países europeus criaram uma legislação específica que criminaliza a MGF além de promover projetos a níveis transnacionais que desincentivam e denunciam a violência e impactos sociais, psicológicos e físicos da prática. De acordo, com a ACNUR cerca de 20 mil mulheres e meninas provenientes de países onde a MGF é prática recorrente pediram asilo na União Europeia. Esta comunicação tem como objetivo apresentar as principais características da prática da MGF e suas consequências físico, psicológicas e sociais para mulheres e crianças. Buscaremos ainda refletir como a desigualdade de género afeta as mulheres e pode ser relacionado com a MGF. Por fim, objetivamos discutir como as questões ligadas MGF tem sido discutida a nível político internacional e como estas se relacionam a migração e fuga de mulheres das zonas em que são praticados a MGF.

Palavras-chave: Mutilação Genital Feminina; Migração; Cultura; Direitos Humanos.

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