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ST 10 - História, Gênero, Educação e Cultura

 

Coordenação: Dra. Julinete Vieira Castelo Branco (UFPI)

Esse simpósio tem como proposta, a reunião de trabalhos que permitem possibilitar discussões acerca da História, relacionadas às categorias Gênero, Educação e Cultura no âmbito da pesquisa histórica contemporânea. Nesse diálogo, dada a importância e urgência levantadas pelos estudos culturais, que possibilitaram  a renovação historiográfica  proposta pelos representantes da Escola dos Annales, ocorrida ao longo do século XX, com a inserção de temas relacionados à condição e atuação das vivências das mulheres, dos espaços, das conquistas políticas e da inserção na educação. Essas questões abriram caminhos e apresentaram desafios constantes na historiografia, frente aos modelos de autoritarismo presentes nas sociedades. Nesse sentido, com o intuito de fortalecer esse debate, esse simpósio direciona-se para estudos e pesquisas que se debrucem sobre as problemáticas indicadas, que envolvem um amplo espaço, no campo e na cidade, bem como no centro das discussões que provocam embates acerca das identidades, subjetividades, conjugalidades, cultura, educação e sociedade, assim como as relações de poder que foram travadas e se mantém nos diversos contextos sociais. Portanto, no século XXI, mesmo com densos estudos e pesquisas já levantadas, essas questões são diversas e permanecem lacunas abertas à investigação histórica. Nesse sentido, a proposta desse simpósio busca despertar novos olhares e possibilidades para esse debate, propondo uma exposição de temas que possam abordar o universo das performances das mulheres, suas construções e estratégias de resistências, frente aos modelos de autoritarismo impostos, sobretudo, nos anos de ditadura. Propõe-se, assim, um amplo diálogo que venha esclarecer, ainda mais, a compreensão acerca desses temas e dos conceitos de feminilidades, masculinidades, subjetividades e conjugalidades, por meio das diversas pesquisas e estudos a serem descortinados nesse debate.

 

BIBLIOGRAFIA

BEAUVOIR, Simone de. O Segundo Sexo. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009.
BUTLER, Judith. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.

FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade 2; O uso dos prazeres. Trad. Maria Thereza da C. Albuquerque. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1984.
LE GOFF, Jaques. História e Memória. 4.ed.Campinas:Unicamp,1996.
LOURO, Guacyra Lopes. Um corpo estranho, ensaios sobre sexualidade e teoria. Belo Horizonte: Autêntica, 2004.

NICHOLSON, Linda. Interpretando o Gênero. Revista de Estudos Feministas.Florianópolis.v.8. 2000.

PEDRO, Joana M. (Org.) Corpo, prazer e trabalho. Nova História das Mulheres no Brasil. 1ª Ed. São Paulo: Contexto, 2013.

SCOTT, Joan W. Os usos e abusos do gênero. Projeto História, n. 45, p. 327-351, 2012.
SCOTT, Joan W. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação e Realidade, v. 15, n. 2, 1990.

STEARNS, N. Peter. História das Relações de Gênero. Trad. Mirna Pinsky. 2 ed. São Paulo:Contexto, 2015.

Sessão 1 - Dia 21 de outubro de 2020, 14 horas

A (Re)construção da história e a questão de gênero: O PAPEL DA MULHER NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA.

Aline de Amorim Cordeiro Viana

  As reflexões desenvolvidas neste artigo tem como objetivo analisar e discutir acerca do papel da mulher e as questões de gênero na história da educação brasileira. Teremos como contribuição da Escola dos Annales enfatizando a terceira fase, onde houve a inclusão da mulher na historiografia da educação e a “escrita de uma nova história”. Abordaremos as performances, construções e estratégias das mulheres, frente ao autoritarismo do período ditatorial no Brasil, ampliando o diálogo e buscando esclarecer conceitos de gênero, feminilidades e masculinidades, trabalho e feminização do magistério. Pretendemos, ainda, mostrar a realidade pós-moderna da educação  como transformadora da condição feminina, abolindo a concepção tradicional de que as mulheres são apenas coadjuvantes em educar. O nosso intuito, por fim, é interrogar acerca das construções distintas entre os gêneros masculino é feminino. Reduzir, através de fontes com embasamento teórico, a ausência quase total das mulheres, ao nível da narrativa histórica na educação, devido às disparidades de um “Brasil varonil” e contextualizar as imbricações da mulher educadora com a economia, a política, e a educação a partir da revisão bibliográfica sob a ótica de Louro(2004); Butler(2003); Scott(1989).

Palavras-chave: Educação; mulher; escola; gênero; história do Brasil.

Educação feminina, carreira e casamento na década de 1960.

Jessica Assunção Leal

O presente trabalho pretende discutir a presença da mulher no meio educacional no Piauí na década de 1960, uma época de mudanças significativas no campo social, econômico, político e cultural. Mesmo sendo esse o período escolhido, para melhor compreender as questões que permeiam a discussão, tornou-se necessário, em certos momentos, recuar no recorte temporal proposto. Esta análise se desenvolve a partir de revisão bibliográfica e consulta a jornais do período estudado (Estado do Piauí, Folha da Manhã, O Dia) disponíveis no Arquivo Público do Piauí. Objetiva analisar como se deu o estabelecimento de um campo sólido em termos de escolarização feminina e os desafios enfrentados pelas mulheres na luta pelo desenvolvimento pessoal e profissional. A instrução passou a ser algo fundamental na formação de moças que deveriam converter-se em boas esposas e boas mães. A mulher letrada, aos poucos violaria as regras de submissão impostas por uma sociedade conservadora, trilhando seus próprios caminhos.

Palavras-chave: Educação; Mulher; Piauí; História.

Estudos de Gênero na formação continuada de professores: dialogando com as mudanças, desconstruindo conceitos e rompendo paradigmas.

Jose Rossicleiton de Freitas

Este trabalho como parte importante da pesquisa de mestrado, coloca em pauta a discussão da formação inicial e continuada da prática docente, fazendo uma relação das fragilidades do processo formativo com as dificuldades dos educadores em trabalhar temas polêmicos como as questões ligadas à identidade de gênero dos discentes. Assim, confronta alguns aspectos discursivos, conceitos e metodológicos defendidos pela cultura hegemônica intra e extra-escola, destacando a legislação educativa como instrumento mediador destas questões tensionadas pelas diferenças. Para tanto, optou-se por uma pesquisa de cunho bibliográfico, a fim de entender e dialogar com os diferentes olhares acerca do assunto e cujo resultado revela não só os dilemas e fragilidades dos processos formativos, bem como as incertezas que cercam as relações de gênero. Desse modo conclui-se que a dificuldade em lidar com temas complexos situados na realidade da sala de aula está intrinsecamente ligada às lacunas e limitações do processo formativo quer seja no seu princípio ou em seu percurso.

Palavras-chave: Formação; Diferenças; Gênero.

Mulheres independentes, afetos e a ousadia dos anos 1980 em Teresina.

Julinete Vieira Castelo Branco

Esse estudo analisa experiências de independências, sociabilidades, juventude, imigração e escolarização de mulheres, durante os anos finais da Ditadura militar e o início dos tempos democráticos, na travessia da década de 1980, em Teresina. A pesquisa partiu de uma análise de modelos individualizados, nesse cenário político, sete mulheres com experiências e atitudes de independências ditas femininas. Assim, a intenção consiste em compreender as formas desdobradas em que esses modelos emergiram e seus ajustamentos às normas que eram estabelecidas na sociedade de Teresina, bem como configurar os usos urbanos das mulheres independentes na cidade, nesse momento de transição. A partir dos ideais de liberdade, o estudo pretende, ainda, compreender como se construíram as identidades juvenis e de que forma essas jovens constituíram as histórias de vida, enquanto sujeitos independentes. Para a realização da pesquisa, a metodologia fez uso do levantamento de histórias de vida de jovens que vivenciaram sua etapa de juventude na Capital, além da análise do discurso das crônicas de A. Tito Filho, publicadas no jornal “O Dia”, tomando por base as vivências de sete mulheres com suas trajetórias de vida juvenil em Teresina, nos anos 1980. As depoentes em análise, atualmente, correspondem à faixa etária de 50 a 60 anos. São mulheres que ousaram afirmarem-se como indivíduos que buscaram seguir caminhos profissionais e pessoais mais livres e que traçaram experiências diversas para a conquista da escolarização e da carreira. Para esse entendimento, as questões que nortearam esse estudo concentraram-se em compreender: quais condições históricas tornaram possível a reinvenção de um modelo de mulher independente em Teresina nos anos 1980? Como se constituiu o sujeito mulher independente em Teresina? Quais as imagens criadas acerca das mulheres independentes nas crônicas do Jornal O Dia? Quais as experiências urbanas das mulheres em Teresina? Como eram estabelecidas as afetividades e conjugalidades das mulheres independentes?Nesse sentido, o essa narrativa vem dialogar com as leituras de Foucault (2012),Pedro (2013 ) Rolnik(2014) Queiroz(2006) entre outros, propondo uma discussão acerca do campo dos estudos de gênero, pela ótica da nova história cultural especificamente, no campo da história das mulheres. Portanto, conhecer as vivências de mulheres independentes em Teresina, sobreveio o entendimento do amplo universo dos sujeitos, enquanto indivíduos, que constituíram e modificaram valores, normas, costumes, crenças e, desse modo, apresentaram novos caminhos à historiografia sobre como se constituíram sujeitos independentes na sociedade de Teresina, sob a transição dos anos finais de Ditadura militar à  abertura dos novos tempos democráticos.

Palavras-chave: Mulheres; Independentes, Família; Identidades; Conjugalidades.

MULHERES AGRICULTORAS RURAIS: Da invisibilidade à conquista da autonomia financeira no semiárido piauiense.

Márcia Mendes Santos Araújo

A presente pesquisa tem como propósito analisar o processo de construção e conquista da autonomia financeira das mulheres rurais no âmbito de atuação do Projeto Viva o Semiárido – PVSA, no estado do Piauí. O estudo baseia-se em dados oriundos do Projeto, desenvolvido com o objetivo de reduzir a pobreza extrema no meio rural, tendo como público prioritário juventudes, mulheres rurais e quilombolas. Esses segmentos, historicamente, invisibilizados pelas políticas públicas, entre elas a Assistência Técnica e Extensão Rural – ATER tiveram como consequência dessas ações excludentes as suas trajetórias de vidas reduzidas, principalmente, no tocante à mulher rural, considerada como uma representação do trabalho doméstico, do cuidado e de ajuda aos seus companheiros. No geral, as vidas dessas mulheres foram destituídas dos seus direitos, de suas vontades, necessidades, autonomia e poder por parte dos órgãos responsáveis pelas políticas e pela sociedade dita patriarcal. Assim, visando fortalecer a chamada “Revolução Silenciosa” e tornar visível a mulher do campo como ser capaz de construir sua história, conquistar sua autonomia e consequentemente potencializar sua auto-estima e reduzir as desigualdades de gênero no campo, além das ações previstas no projeto para os grupos de mulheres agricultoras rurais, foi implantado em parceria com o SEMEAR internacional o Projeto de Formação e Disseminação do uso Consciente das Cadernetas Agroecológicas. A metodologia realizada nesse projeto consiste na aplicação das Cadernetas Agroecológicas, uma metodologia político-pedagógica, idealizada pelo Centro de Tecnologias Alternativas (CTA-ZM) em parceria com as mulheres agricultoras com o objetivo de mensurar e dar visibilidade ao trabalho das mulheres bem como contribuir para a sua formação e autonomia além de ser uma ferramenta de planejamento, monitoramento, reflexão e ação para a Assistência Técnica e Extensão Rural – ATER. A implantação dessas Cadernetas nos grupos de mulheres assistidos pelo EMATER – PI, órgão co-executor do PVSA, teve início em setembro de 2019 com final previsto para agosto de 2020. Os resultados ora apresentados foram obtidos e sistematizados, tendo como referência os 06 (seis) primeiros meses de anotações nos Territórios de Desenvolvimento do Vale do Guaribas, Itaim e Canindé. No total foram aplicadas 63 (sessenta e três) Cadernetas. Essa pesquisa tem como base teórica FREIRE (1977), CARDOSO (2019), BERTOTTI (2015), entre outros autores. Nesse sentido, o trabalho realizado é organizado com a formação de grupos produtivos e equipe técnica para uso do caderno de anotações, construção dos mapas da Sociobiodiversidade e aplicação do questionário socioeconômico. Os dados coletados foram enviados à Gestão do Projeto para análise, sistematização e devolução dos resultados às participantes. A partir do exposto verificou-se que, além do reconhecimento de mulheres trabalhadoras rurais geradoras de renda monetária e não monetária, tornou-se também visível a contribuição dessas mulheres, para o sustento da família através dos seus diversos espaços de produção. Portanto, esse estudo vem despertar a reflexão crítica e registrar a conquista da autonomia e relevância das mulheres agricultoras, tanto na vida pública como privada.

Palavras-chave: Mulheres Agricultoras; Cadernetas Agroecológicas; Educação.

Mulheres do campo e cultura popular: Uma construção de infrapolíticas de resistência.

Maria Liliane Rosado Rodrigues

A cultura popular constitui-se como elemento significante das relações sociais dos povos do campo. Constituída de simbologias e atos performáticos vão tecendo o cotidiano de homens e mulheres em suas produções materializadas e subjetivas. Este trabalho constitui-se em uma pesquisa investigativa, a luz da história oral, sobre o território da cultura popular como um espaço de produção e execução de poder por parte das mulheres do campo. É um trabalho que esta sendo realizado na zona rural da cidade de Assaré Ce, na comunidade da Serra de Santana onde as mulheres se apropriam dos saberes popular e utilizam-se destes como ferramenta de poder para desloca-se da posição de inferioridade a qual é alocada dentro do sistema patriarcal, nas relações de gênero, dicotômicas e hierarquizada.
Neste contexto vão delineando sua existência, produzindo seus espaços de poder e produzindo novas formas de ser e (re) existir. Nesta pesquisa o conceito de cultura popular é trabalhado a partir da teorização do Nestor Canclini que a define como a “oposição diante da cultura dominante, o resultado da desigualdade e do conflito”(pág.18, 1983), e a apropriação desta cultura oposta pelas mulheres subalternizadas pode configurar-se em uma construção de infrapolíticas de resistência partindo do conceito de descolonialidade do gênero defendido pela a Maria Lugones. Enfim apresenta-se aqui uma proposta pertinente de análise das diferentes formas de SER mulher e suas vivências, assim como os campos de possibilidades do exercício de um contra-poder.

Palavras-chave: Mulheres; Cultura popular; Poder; Resistência.

Nadir Gouvêa Kfouri: a Reitora e democracia puquiana

Marilene Rodrigues Quintino

Essa comunicação oral trata da pesquisa que analisa a presença feminina na mais alta instância de poder político e administrativo em universidades a partir da experiência de Nadir Gouvêa Kfouri (1976-1984) na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, uma das pioneiras no que se refere à gestão de mulheres em sua reitoria. A pesquisa surge da inquietação acerca do fato de ainda existirem poucas mulheres ocupando o cargo de reitoria no país e busca rastrear pela história da PUC/SP – caracterizada por uma tradição democrática de gestão – questionando se a vanguarda da gestão feminina de Nadir Kfouri se forja com o próprio ideal de identidade democrática da universidade ainda no contexto da ditadura militar.
A escolha por essa gestão da PUC-SP nesse período é relevante por ser, naquele momento, marcado pela ebulição das discussões acerca de valores democráticos e pelo pioneirismo, na primeira gestão de uma reitoria feminina em universidades católicas no mundo e, para segunda gestão, por ser a primeira reitora eleita no país.
Foi durante as gestões de Kfouri, que aconteceram em momentos de grande tensão na PUC-SP no contexto da repressão dos governos militares, a Universidade se transformou em palco privilegiado de mudanças de comportamento que apontavam para a instalação do processo democrático, em dissonância, naquele momento histórico, com as demais universidades brasileiras.
A pesquisa utiliza como fonte a documentação institucional da universidade, ou seja, fontes produzidas pela própria instituição – relatórios de gestão, atas e comunicados da reitoria – e por órgãos de organização da comunidade universitária, o periódico Porandubas que circulava nos campus e na chamada grande impressa (Estado de São Paulo e Folha de São Paulo). Além disso, faz-se análise da vasta produção de documentação oral produzida pelo Projeto No Laboratório de Palavras com entrevistas com pessoas que estão ligados a memória da instituição, bem como entrevistas produzidas com a reitora em diferentes momentos da sua vida.
Busca-se refletir e discutir a respeito das vivências e da participação de um mulher nesse locus de poder analisando as especificidades e desafios, sejam estruturais, institucionais, ideológicas ou simbólicas, que se apresentavam no cotidiano de Nadir Kfouri frente a gestão na universidade. Além disso, procura verificar quais estratégias a reitora lançou mão para enfrentar processos num período de efervescência política e cultural no país e na PUC/SP, analisando as permanências e mudanças, confrontos e contradições vividas na sua gestão.
A investigação, ainda em processo de elaboração, se enveredou pelas reflexões sobre como é rememorada as gestões de Nadir e suas intersecções com a história da própria universidade, questionando se o pioneirismo da gestão de mulheres na reitoria e em outras instâncias decisórias se forja com a “vocação democrática” dessa universidade.

 

Palavras-chave: Mulheres; reitoras; democracia; universidade; ditadura.
 

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