SIMPÓSIOS TEMÁTICOS
ST 1 - História, Ficção e Gênero: Entrecruzamentos Sensíveis no Entretenimento Sintomático
Organização: Mestre Savio Queiroz Lima (UNIVERSO)
Tem sido cada vez maior o interesse de pesquisadoras e pesquisadores sobre as produções ficcionais em diversos suportes e seus dizeres sobre Gênero e Sexualidades. Sejam filmes, novelas, séries televisivas, histórias em quadrinhos, jogos, ou quaisquer outros suportes, as latências que envolvem gênero e sexualidades evidenciam processos de concordância ou discordância com expectativas sociais ou persistentes culturas de violência. As produções ficcionais são interessantes suportes a serem investigados por sua potencialidade discursiva, sua acessibilidade e consumo, a audiência dos seus expectadores. A História já tem nos tratos ficcionais novas fontes de pesquisa, sintomáticas de imaginários, ideologias, discursos e práticas em posturas verossimilhantes, evidenciando a pertinência dos estudos sobre narrativas de ficção e suas amplas tipologias de suporte. Serão aceitos trabalhos que se proponham tratar de gênero e sexualidade, em suas múltiplas diagnoses, em produções ficcionais contextualizadas temporalmente e inseridas em realidades sociais e culturais pré-estabelecidas. Desta maneira, produções historiográficas ou de áreas afins que abordem teorias e metodologias que orbitam os temas de Estudos de Gênero, Feminismos, Estudos de Sexualidades, dentre outros, e que tenham em suas fontes primárias as produções ficcionais dos diversos suportes midiáticos na História.
BIBLIOGRAFIA
BORTOLINI, Alexandre (Org). Diversidade Sexual e de Gênero na Escola – Educação, Cultura, Violência, Ética. Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, 2008.
BURKE, Peter (org.) A escrita da História: novas perspectivas. São Paulo: Unesp,
1992.
BUTLER, Judith. Problemas de gênero. Feminismo e subversão da identidade. Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 2003.
CERTEAU, Michel de. A Escrita da História. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2002.
CHARTIER, Roger. Cultura escrita, literatura e história: conversas com Carlos
Aguirre Anaya, Jesús Anaya Rosique, Daniel Goldin e Antonio Saborit. Porto
Alegre: Artes Médicas Editora, 2001.
COSTA LIMA, Luiz. História, Ficção, Literatura. 1. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.
FOUCAULT. Michel. A arqueologia do saber. 7ª ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004.
FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade: a Vontade de Saber – vol. 1. Graal, São Paulo, 1998.
HARAWAY, Donna. Manifesto ciborgue. Ciência, tecnologia e feminismo-socialista no final do século XX. In: HARAWAY, D.; KUNZRU, H.; TADEU, T. Antropologia do ciborgue: as vertigens do pós-humano. Belo Horizonte: Autêntica, 2009, p. 33-118.
LEENHARDT, Jacques & PESAVENTO, Sandra Jatahy, (orgs). Discurso Histórico e Narrativa Ficcional. Campinas: Edunicamp, 1998.
LE GOFF, Jacques; NORA, Pierre. História: Novos Problemas. Rio de Janeiro: 1976.
LIMA, Savio Queiroz; SOTERO, Saoara Barbosa Costa. Erotismo ou Pornografia? Imprecisas fronteiras das Sexualidades Regradas e Desregradas Através das Histórias em Quadrinhos. In: Anais do V Seminário Internacional Enlaçando Sexualidades. Volume 1, 2017. Acessado em: 15 de janeiro de 2018. Disponível em: http://www.editorarealize.com.br/revistas/enlacando/resumo.php?idtrabalho=365.
LOURO, Guacira Lopes. Gênero, sexualidade e educação: uma perspectiva pós-estruturalista. 11. ed. Editora Vozes, Petrópolis, 2010.
NICHOLSON, Linda. Interpretando o gênero. In: Revista Estudos Feministas, vol. 8, nº 2, Florianópolis, 2000, pp.9-41
PESAVENTO, Sandra Jatahy. O Mundo Como Texto: leituras da História e da Literatura. História da Educação, Pelotas, p. 31 - 45, 01 set. 2003.
________. História & História Cultural. Belo Horizonte: Autêntica, 2004.
________. História & literatura: uma velha-nova história. Nuevo Mundo, Mundos
Nuevos, Debates, 2006. Disponível em: http://nuevomundo.revues.org/index1560.html.
RAMOS, Fábio. História e Literatura: ficção e veracidade. Domínios de Linguagem II – 2003.
SAFFIOTI, Heleieth Iara Bongiovani. Ontogênese e Filogênese do Gênero: ordem patriarcal de gênero e a violência masculina contra mulheres. Serie Estudos e Ensaios – Ciências Sociais. Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais – FLACSO – Brasil – Junho 2009.
SAFFIOTI, Heleieth Iara Bongiovani. Rearticulando Gênero e Classe Social. In: COSTA, Albertina; BRUSCHINI, Cristina (org). Uma questão de gênero. Editora Rosa dos Tempos/FCC, São Paulo, pp.183-215, 1992.
SCOTT, Joan Wallach. História das mulheres. In: BURKE, Peter (Org.). A Escrita da História: Novas Perspectivas. Unesp, São Paulo, 1992.
SCOTT, Joan Wallach. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. vol. 20, nº 2, jul/dez. Educação & Realidade, pp. 71-99. Porto Alegre, 1995.
RÜSEN, Jörn. Razão Histórica: teoria da História: Os fundamentos da ciência histórica. Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 2001.
WHITE, Hayden. A questão da narrativa na teoria histórica contemporânea. In: NOVAIS, Fernando A.; SILVA, Rogério F. da (org). Nova história em perspectiva. São Paulo: Cosac Naify, 2011.
Sessão 1 - Dia 21 de outubro de 2020, 14 horas.
Da Ficção à Realidade: Apontamentos sobre O Conto da Aia e suas relações com o Tempo Presente
Rosane Barros dos Santos; André Luiz Bernardo Storino
O texto faz parte de uma reflexão sobre os significados de governos autoritários para as mulheres, tendo como tema mobilizador a obra de ficção “O conto da Aia”, da autora Margaret Atwood. O objetivo é analisar posicionamentos diversos de mulheres em relação a governos autoritários, e como as visões de mulheres que se autodeterminam “conservadoras” se modificam na obra ficcional com a anulação da liberdade e a objetificação da mulher, resultando na percepção que o contexto se traduz na disputa de poder e privilégio masculino. Partindo da ficção, abordamos como o movimento de mulheres conservadoras se posicionam em redes sociais no tempo presente, assim como o discurso de apoio e visões negacionistas sobre a Ditadura Militar no Brasil, que teve início em 1964. Através desse debate, procuramos dialogar sobre a disputa por narrativas inseridas na questão de gênero e como essa discussão está atravessada por preconceitos e distorções de fatos sensíveis na história do tempo presente.
Palavras-chaves: Conservadorismo; Ficção; Redes Sociais; Gênero.
A mulher durante a ditadura militar chilena - O passado em Los 80
Beatriz de Souza Bravo
O seguinte trabalho busca discutir a condição da mulher chilena a partir da análise histórica da personagem Ana Herrera, da série televisiva Los 80, más que una moda. A obra, exibida entre 2008 e 2014, retrata o cotidiano de uma típica família chilena de classe média durante a década de 1980, em que o país vivia uma ditadura militar, caracterizada pelo autoritarismo, patriarcalismo e a implementação radical do neoliberalismo. Por meio da vivência dos pais Ana e Juan e dos filhos Cláudia, Martín e Félix, é possível entender os impactos do regime na vida dos chilenos. O interessante de Los 80 é sua construção histórica, já que os acontecimentos do regime influenciam o enredo dos personagens. A preocupação dos autores com o passado histórico permite minha análise histórica da obra. Uma das temáticas centrais nas sete temporadas é sobre a mulher, representada principalmente em Ana. A mesma é, inicialmente, dona de casa, cuidando do lar e dos filhos. Naquele momento, a personagem é coerente ao discurso militar sobre qual era o dever da mulher na sociedade. Segundo a Junta de Governo, a chilena, centro da família, era essencial para o êxito do regime. Caracterizando-as como mães e esposas, os militares definiam que ao criar filhos despolitizados, patrióticos e de acordo com as ideologias do governo, fariam com que esses valores fossem perpetuados pelas gerações futuras. A ditadura militar reforçava o patriarcalismo histórico chileno.
No entanto, ao longo da série, e ao longo do meu estudo, percebo que essa construção do regime era incoerente aos acontecimentos posteriores da década de 1980, consequentes do projeto neoliberal. Se em um primeiro momento a família Herrera está em harmonia, com Juan sustentando a família e Ana responsável pelas tarefas domésticas, a crise de 1982 romperá com essa condição. A recessão, causada pelas políticas neoliberais, fará com que inúmeras empresas entrem em falência, como a de Juan. Desempregado, o patriarca não consegue sustentar sua família, e a sua esposa adquire um emprego para complementar a renda. Isso gera um conflito entre o casal, pois Juan não tolera que sua esposa desempenhe o seu papel de sustentar a família. Por meio da família Herrera, é possível estudar os impactos do neoliberalismo na sociedade chilena, principalmente nas mulheres de classe média, que se inserem no mercado de trabalho. Além do uso de autoras que explicitem essa condição da década de 1980, como Nancy Fraser, Teresa Valdés e Julieta Kirkwood, também utilizo autores que definem uma metodologia adequada para compreender as obras audiovisuais. Por exemplo, a partir dos estudos de Marc Ferro, Marcos Napolitano e Eduardo Morettin, percebo a importância de compreender não só o passado que os produtores de Los 80 retratam, como também do presente em que a série é construída. O Chile, em 2008, é fruto das reformas estruturais neoliberais da ditadura militar chilena. Compreender isso é um ponto de partida para uma análise eficaz da série televisiva.
Palavras-chave: Ditadura Militar Chilena; Audiovisual; Mulher; Neoliberalismo; Representação.
Maternidade fraturada em "Depois da rua Tutoia", romance de Eduardo Reina.
Johny Paiva Freitas; Ana Rita Fonteles Duarte
O presente artigo tem como objetivo analisar o romance "Depois da Rua Tutoia" (2016), de Eduardo Reina a partir da perspectiva dos estudos de gênero, tendo como foco a questão da maternidade (fraturada). Além disso, é importante destacar que a arquitetura temporal dessa obra é construída a partir do entrecruzamento do tempo da ficção com o tempo da História, uma vez que a trama narrativa amálgama imaginação/inveção com os eventos históricos da ditadura civil-militar no Brasil (1964-1985). Para tanto, alguns diálogos serão empreendidos, entre eles a pesquisa jornalística do próprio Eduardo Reina (2019) acerca das histórias dos bêbes, crianças e adolescentes sequestrados pelo regime militar brasileiro; as reflexões de Pilar Calveiro (2013) a respeito do despareceimento político como lógica sistemática de manutenção de governos ditatoriais; e a pesquisa de cunho mais sociológico de Fátima Maria Leite Cruz e Maria de Fátima de Souza Santos (2017) sobre o impacto da ditadura militar na reconfiguração do papel tradicional da mulher/mãe no seio da família.
Palavras-chave: Ficção; História; Maternidade.
"Era um verão estranho, sufocante, o verão em que eletrocutaram os Rosenberg”: Guerra fria e Políticas Emocionais na prosa de Sylvia Plath
Leticia Portella Milan
Na presente comunicação pretendo realizar uma análise histórica a partir do conceito de “Regimes Emocionais” de William Reddy na obra ficcional “A Redoma de Vidro”, escrita pela poeta americana Sylvia Plath (1932 - 1963). O romance tem como temática uma retrospectiva do ano de 1953, quando a personagem principal, Esther Greenwood, tentou suicídio e foi internada em um hospital psiquiátrico. Sobre esse romance, o que pretendo discutir é a memória fundacional de Esther Greenwood sobre o ano de 1953: a sentença de morte do famoso casal acusado de espionagem, Julius e Ethel Rosenberg, por eletrocutamento. As pesquisas acadêmicas sobre Sylvia Plath são extensas, contudo, a perspectiva histórica sobre a menção ao casal Rosenberg é posta de forma superficial, ou seja, é academicamente interpretada apenas como uma referência ao contexto histórico e como alusão a formação identitária de Esther correlacionada à sentença do casal, já que ao final do romance Esther tem a sensação de estar sendo punida ao passar por procedimentos de eletrochoque no hospital psiquiátrico. Na presente comunicação apresentarei minha contribuição para a leitura do caso Rosenberg no romance “A redoma de vidro”. A partir de Sara Ahmed utilizarei a emoção como uma categoria de análise útil para compreensão dos contextos históricos; nesse sentido pretendo desenvolver uma reflexão sobre como Sylvia Plath utiliza a sentença de morte e método cura por eletrocutamento como exemplo do “Regime Emocional” americano durante Guerra Fria. Para além das questões geopolíticas que implicaram o julgamento do casal Rosenberg como culpados por crime de espionagem, a própria constituição identitária do casal foi posta pelo governo americano como desviante nas relações de gênero e no papel da família, posto que o irmão de Ethel Rosenberg acusou-a de espionagem ao governo americano. Nesse sentido, as conclusões dessa apresentação estarão direcionadas especificamente às definições do “Regime Emocional” americano sobre as mulheres e suas emoções. No caso de Ethel Rosenberg, o amor foi visto como inexistente em sua posição como mãe já que ela tinha mais amor “a causa comunista do que seus próprios filhos”, e no caso de Esther Greenwood, como uma representação ficcional das mulheres diagnosticadas com doenças mentais, e que foram majoritariamente submetidas a métodos de cura cujo procedimento era o eletrochoque.
Palavras-chave: Regimes emocionais; Sylvia Plath; Guerra Fria.
Gênero e feminismo nos filmes de suspense do cinema feito por mulheres.
Isabela R Regagnan
Este trabalho deriva de uma pesquisa de iniciação científica ainda em andamento que visa discutir o cinema enquanto fonte histórica, analisando as relações de gênero e o feminismo em quatro filmes estadunidenses sobre psicopatas dirigidos por mulheres. São eles: Monsters (2004) de Patty Jenkins; Office Killer (1997) de Cindy Sherman; American Psycho (2000) Mary Harron e We Need to Talk About Kevin (2012) de Lynne Ramsay. De princípio, cabe pontuar que a pesquisa tem uma relação bem direta com a questão da violência, tendo em vista que os quatro filmes apresentam essa temática de maneira explícita, nos fazendo refletir e analisar como as diretoras utilizaram a violência como recurso narrativo, permitindo uma reflexão sobre gênero e feminismo. Por se tratar de um cinema feito por mulheres, deve-se levar em conta como as experiências de gênero marcam as formas de fazer cinema de homens e mulheres, logo o uso da violência em filmes de serial killers dirigidos por mulheres expressam essa diversidade de experiências marcadas pelo ser homem e ser mulher, ao mesmo tempo que insinuam os limites da ideia de “olhar feminino”, uma vez que o próprio uso da violência como recurso narrativo descontrói a ideia de feminino. Por meio de leitura de obras com foco nas áreas de cinema, gênero e feminismo, e da análise prévia dos quatro filmes, é evidente que estes trazem no seu enredo, figurino, roteiro e composição temas com concepções acerca da prostituição, abuso sexual, estupro, feminilidade, solidão da mulher adulta, masculinidade e maternidade, temas importantíssimos dentro da discussão de gênero e feminismo e também o uso do cinema enquanto fonte histórica. Dessa forma, o presente trabalho visa analisar e salientar o trabalho dessas mulheres enquanto diretoras de cinema, o uso e abuso da violência por parte dessas mulheres dentro dos filmes, mostrando como as mulheres também podem produzir filmes de suspense com temáticas consideradas masculinas, mostrando um rompimento no padrão cinematográfico.
Palavras-chave: Gênero; feminismo; cinema; suspense; psicopatas.
Sessão 2 - Dia 22 de outubro de 2020, 14 horas.
O estatuto pedagógico do cinema pornográfico: apontamentos sobre as produções de subjetividade a partir do estudo das pornochanchadas (1976-1981).
Gabbiana Clamer Fonseca Falavigna dos Reis
Este trabalho visa discutir o estatuto pedagógico do cinema pornográfico a partir de análises dos filmes de pornochanchada (1976-1981). O subgênero cinematográfico foi produzido, majoritariamente, no eixo Rio-São Paulo, ao longo da ditadura civil militar, e é marcado pela por inúmeras cenas que exploram a nudez feminina, trocadilhos “fálicos” e estereótipos heteronormativos. Os resultados preliminares a serem apresentados integram uma pesquisa de doutorado ainda em andamento que tem como objetivo compreender as representações sociais da dissidência social e de gênero, a partir da análise de personagens lésbicas, travestis e gays no interior das pornochanchadas. O cinema pornográfico, especificamente, é entendido aqui como uma tecnologia de gênero, que corrobora com a criação e reprodução de saberes e verdades sobre o sexo, subjetividades, representações, autorepresentações e na manutenção do dispositivo da sexualidade. Para o debate teórico instrumentalizo conceitos-ferramenta do filósofo Michel Foucault, assim como, autoras(es) pós-estruturalistas, pós-feministas e queer, tais como Michel Foucault, Teresa de Lauretis, Judith Butler e Paul B. Preciado.
Palavras-chave: Cinema pornográfico; Cinema-História; Tecnologias de gênero.
Expressão e representação da mulher nordestina no cinema nacional: Apontamentos de estigmas de Gênero.
Brena Sirelle Lira de Paula
O presente trabalho analisa as representatividades das mulheres nordestinas no cinema nacional. Este trabalho tem como objetivo refletir como são caracterizados os estereótipos e a atuação dos estigmas de gênero no processo da construção identitária das mulheres nordestina presente nas narrativas fílmicas nacionais, mostrando, a partir dos dados coletados e analisados, como se configura os imaginários sociais desenvolvido pela indústria cinematográfica brasileira acerca desta questão, sem perder de vista a problematização das expressões e comportamentos representados por personagens femininas nordestinas. Para isso, foi utilizado os conceitos de estereótipo e estigmas de gênero, levando em consideração a noção de representação de Roger Chartier (2002) e os contextos históricos-sociais das produções nacionais sobre o nordeste. São utilizadas para análise três filmes nacionais: (1) Parahyba, Mulher-macho (1983); (2) Guerra de Canudos (1997) e (3) Bacurau (2019), com a intenção de compreender o protagonismo de mulheres nordestinas em diferentes décadas no cinema brasileiro e apontar as mudanças e permanências dos estigmas de gênero na representação dessas mulheres no cinema nacional. A partir do estudo pode-se observar que, no universo do cinema nacional, as mulheres nordestinas foram simbolizadas com estereótipos e estigmas. Dessa forma, verificou-se a importância da análise narrativa do cinema nordestino perante esse grupo, colocando em pauta o papel dos filmes na inserção de representações sociais caracterizado por estigmas e estereótipos.
Palavras- chave: Mulheres nordestinas; Representação; Estigmas de gênero; Cinema Nacional.
Corpo e transgressão: Leila Ferraz e as correntes surrealistas na cidade de São Paulo entre os anos 1950 até 1967.
Reginaldo Sousa Chaves
Nossa comunicação tem como objetivo discutir a emergência histórica das correntes surrealistas na cidade de São Paulo, abarcando o fim da década de cinquenta e sua atuação até 1967, a partir de uma problemática da formulação de temporalidades. Nesse período é possível identificar três grupos distintos, mas não coesos: realismo mágico, beat-surrealismo e os artistas criadores da revista A Phala. Buscaremos localizar representantes da arte surrealista em meio ao debate político e estético da época, dividido entre as vanguardas concretas e a arte dita participante e suas ênfases em uma temporalidade que valorizava o novo mundo técnico-urbano ou comunista. Para debater aspectos fundamentais do surrealismo paulistano, destacamos a obra da poeta, ensaísta e artista plástica Leila Ferraz – artista ligada ao grupo da revista A Phala. Nosso propósito é entender como sua produção intelectual, a partir das tópicas surrealistas, apresenta-se como transgressora e, simultaneamente, acaba por propor uma imagem essencialista do feminino. Essa compreensão da essência feminina estava marcada por contradições históricas.
Palavras-chave: Surrealismo; Leila Ferraz; gênero.
Um Homem como Wolverine: As Masculinidades transitáveis em um personagem da Ficção de Entretenimento.
Savio Queiroz Lima
O trabalho contextualiza criticamente a existência do personagem Wolverine nos trânsitos de gênero. Através da presença do personagem ficcional em histórias em quadrinhos, animações e produções cinematográficas, é possível aferir os balanços performáticos de suas representações de masculinidades de sua criação em 1974 até mais recente. Atendendo uma tipologia narrativa de personagem anti-herói, condizente com um retorno do regime de masculinidade mais modelar, Wolverine carrega conjuntos de signos e comportamentos que lhe inserem como personagem-produto tensionado, que em pontuais situações narrativas promoveram dubiedades ou alimentaram inquietações e descontentamentos alguns leitores-consumidores que o veem como totem essencial de posturas e vivências. Os estudos de gênero demonstram os jogos discursivos e imaginários que condicionam as representações de masculinidades a enunciados em intensa disputa, que refletem a hipótese repreensiva foucaultiana e uma cadenciada relação determinada entre sexo, gênero e sexualidade, bem como suas performatividades butlerianas. As produções ficcionais são de imensa importâncias para os exercícios valorativos de condicionantes impositivos ou rupturas comportamentais nos assuntos de representações de gênero.
Palavras-chave: Wolverine; Masculinidades; Histórias em Quadrinhos; Gênero e Sexualidades.