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SIMPÓSIOS TEMÁTICOS

ST 2 - Pós-ditadura no Brasil e na América Latina: os usos do passado na História das Mulheres e nos Estudos de Gênero.

Coordenação: Dr. Maria Cecília de Oliveira Adão (Claretiano - Centro Universitário) e Doutoranda Paula Franco (UnB)

Após o fim oficial das ditaduras militares estabelecidas em parte expressiva da América Latina entre as décadas de 1960 a 1990, variadas leituras foram construídas a respeito dos eventos traumáticos e violentos daqueles tempos, bem como sobre o potencial revolucionário que marcou aquelas décadas. Neste cenário, tem sido cada vez mais recorrente encontrar nessas abordagens atuais reflexões sobre como foi a atuação dos indivíduos envolvidos nesses acontecimentos por meio de análises que visam mirar para as categorias de gênero e sexualidade. Tais análises começaram a se forjar no contexto pós-ditadura devido a, pelo menos, dois fatores: i) a rearticulação dos movimentos sociais, entre os quais o movimento feminista, por exemplo e ii) a ampliação do olhar acadêmico, ocasionada tanto pelas pressões sociais que levaram para o centro do olhar historiográfico questões latentes do cenário político, dando início ao campo da História do Tempo Presente latino-americana (DELACROIX), quanto pelo fortalecimento e aprofundamento da História das Mulheres e posteriormente dos Estudos de Gênero (FRANCO), que ofereceu ferramentas analíticas para que novas personagens e tensões políticas, sociais e culturais fossem abordadas nessas narrativas.  Em consideração ao exposto, o presente simpósio temático visa debater como as artes, a imprensa, as comissões e políticas públicas oficias, os movimentos sociais e a própria historiografia atual tem utilizado as lentes oferecidas pelo campo da História das Mulheres e dos Estudos de Gênero para analisar os eventos traumáticos, violentos e de potencial transformador ocorridos durante os anos das ditaduras. Com isso, visa-se um debate que transborde o foco em relação a própria ditadura como evento histórico e alcance o momento atual, com vistas a enxergar os usos que essas leituras do presente tem feito sobre o passado. Portanto, busca-se trabalhos que tenham como fonte materiais estabelecidos após o período de reabertura política, incluindo o tempo presente, e que estabeleçam as ditaduras como marcos. Serão aceitas exposições orais sobre a experiência brasileira ou de países latino-americanos, bem como trabalhos que se utilizem da história comparada, conectada ou transnacional: por exemplo, reflexões sobre comissões da verdade em suas acepções sobre gênero; análises de manifestações artísticas (filmes, peças de teatro, literatura e etc) que tratem a participação de mulheres em movimentos de oposição ou apoio aos militares; atuação de movimentos sociais em relação à pauta memória, verdade e justiça; leituras da imprensa sobre perseguições à comunidade LGBTQI+ durante a ditadura; análises e balanços bibliográficos de trabalhos historiográficos sobre o tema.  

 

BIBLIOGRAFIA

ADÃO, Maria Cecília de Oliveira. Militância feminina: contradições e particularidades (1964-1974). 2002. Dissertação (Mestrado em História Política) - Programa de Pós-Graduação em História, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Franca-SP.
CARVALHO, Claudia Paiva. Crimes sexuais e justiça de transição na América Latina: judicialização e arquivos. Florianópolis: Tribo da Ilha; Belo Horizonte: Projeto Memorial da Anistia; Rede Latino Americana de Justiça de Transição (RLAJT); Centro de Estudos sobre Justiça de Transição, Universidade Federal de Minas Gerais (CTJ/UFMG), Universidade de Brasília (UnB), 2016.

DELACROIX, Cristian. História do Tempo Presente: uma história (realmente) como as outras? Tempo e Argumento, Florianópolis, v. 10, n. 23, p. 39 - 79, jan./mar. 2018.
FRANCO, Paula. A escuta que produz a fala: o lugar do gênero nas comissões estaduais e na Comissão Nacional da Verdade. 2017. Dissertação (Mestrado em História) – Programa de Pós-Graduação em HIstória, Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), Florianópolis-SC.

FRANCO, Stella Maris Scatena. “Gênero em debate: problemas metodológicos e perspectivas historiográficas”. In: VILLAÇA, Mariana & PRADO, Maria Lígia Coelho. História das Américas: fontes e abordagens historiográficas. São Paulo: Humanitas, CAPES, 2015.

MACMILLAN, Margaret. Usos e abusos da História. Rio de Janeiro: Ed. Record, 2010.
VARGAS, Mariluci Cardoso de. O testemunho e suas formas: historiografia, literatura, documentário (Brasil, 1964-2017), 2018. Tese (Doutorado em História) - Programa de Pós-Graduação em História, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre-RS.

Sessão 1 - Dia 21 de outobro de 2020, 14 horas.

O pós-ditadura no Brasil: a leitura sobre tempos autoritários por meio dos modelos de gênero.

Paula Franco

Ao estudar as operações de memória à luz do passado recente da última ditadura argentina, a historiadora Elizabeth Jelin (2002) propõe uma reflexão a respeito de como modelos de gênero podem ser evocados para analisar a oposição entre os tempos da ditadura e do pós-ditadura. No Brasil dos últimos anos - especialmente desde o ano de 2013 quando a Comissão Nacional da Verdade instituiu um Grupo de Trabalho específico para investigar o tema Ditadura e Gênero e as comissões estaduais da verdade promoveram audiências públicas com tal temática -  assuntos dessa esfera têm sido frequentemente tratados em materiais oficiais, pesquisas acadêmicas e em produções artísticas. Considerando o exposto, a presente comunicação visa mapear produções nessas áreas bem como lançar reflexões inciais sobre os limites e tensões colocados sobre as questões de memória vs. história, feminino vs. masculino e ditadura vs. pós-ditadura no que diz respeito aos usos do passado autoritário que estabelecem intersecções com questões de gênero.

 

Palavras-chave: pós-ditadura; modelos de gênero; gênero; usos do passado.

Memórias sobre o conflito armado colombiano: a importância dos testemunhos orais das mulheres para a justiça de transição.

Luisa Maria Ramos da Costa; Érica Cristina Alexandre Winand

 

A Colômbia vivencia o embate entre guerrilhas e paramilitares estendido por mais de 50 anos, gerando milhares de vítimas.  Em 2016 se deu a assinatura do primeiro Acordo de Paz entre o governo colombiano e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – FARC, sendo aquele o primeiro do mundo com foco em gênero, resultado do ativismo desempenhado pelas mulheres, no marco do conflito armado no país. Nesse contexto, a atenção às narrativas sobre as experiências e violências vividas torna-se fundamental para que o Estado colombiano possa empreender um processo de justiça de transição que não esteja baseado no esquecimento das violações de direitos humanos. Assim, um importante trabalho tem sido desenvolvido por coletivos feministas no país, como a Rota Pacífica das Mulheres, que busca construir a memória coletiva de mulheres a fim de conhecer os danos causados no conflito e de proporcionar justiça histórica às mulheres. Portanto, o trabalho busca abordar a partir por testemunhos orais, publicados por organizações não governamentais e observatórios sociais e pelos coletivos feministas mostrando a importância dos depoimentos orais femininos para a construção de uma memória histórica das mulheres sobre o conflito.

 

Palavras-chave: Colômbia; Conflito Armado; Justiça de Transição; Mulheres; Testemunhos Orais.

 

 

A participação política das mulheres na guerrilha: reflexões sobre a sub-representação feminina nas democracias modernas de Argentina, Brasil e Uruguai.

Ana Luiza Martins de Medeiros

 


Nesta emissão, investiga-se os sistema de gênero nos movimentos de resistência às ditaduras e na participação institucional nas democracias dos países do Cone Sul: Argentina, Brasil e Uruguai. Uma importante linha analítica para o continente, consiste na relação de cada região com os respectivos processos políticos, doravante marcada pela dialética, democracia e autoritarismo. As ditaduras civis-militares da região, na segunda metade do século XX, não podem ser vistas como eventos isolados, dado que diversos desdobramentos deste período repercutem nas jovens democracias subsequentes. O papel das mulheres na história é sucessivamente apagado e a atuação das guerrilheiras não fora diferente. Apesar das guerrilhas urbanas, dos três países, terem tido significativo aumento na participação de mulheres, se comparado com a participação política de mulheres em períodos anteriores, elas raramente são mencionadas. Todavia, somente uma análise de uma representação descritiva não se vê suficiente, apesar de necessária. Isto pois, além da afirmação da importância da atuação política das mulheres guerrilheiras, necessita-se também compreender suas relações dentro dos movimentos. Em outras palavras, o presente trabalho tem como objetivo compreender como os marcadores sociais de gênero atuavam nos respectivos sistemas de gênero. Para isso, alguns conceitos tradicionais dos estudos de gênero, serão articulados, como divisão social e sexual do trabalho, construção de discursos e saberes de gênero, representação descritiva, construções sociais de gênero, dentre outros. A partir de uma revisão bibliográfica objetiva-se, portanto, analisar a participação das mulheres nas guerrilhas das Ditaduras Civil-Militares da Argentina, Brasil e Uruguai. A partir de então, torna-se possível o apontamento de algumas reflexões, sobre o fenômeno descrito, com a representação das mulheres nas democracias no novo milênio, bem como de suas respectivas construções e concepções de democracias. Isto é, questiona-se a relação entre o apagamento das mulheres, que lutaram contra as ditaduras militares, em seus países, com os significativos indícios de sub-representação feminina, a despeito das medidas institucionais relacionadas adotas nas últimas décadas.

 

Palavras-chave: América Latina; participação política; cultura política; guerrilheiras; sistemas de gênero.

 

 

Gênero e autoritarismo no passado recente latino-americano: a desobediência das filhas e filhos de ex-repressores argentinos.

Marina Lis Wassmansdorf

O campo dos direitos humanos na Argentina, conhecido mundialmente pelo trabalho das mulheres que se ativaram politicamente em prol de seus filhos desaparecidos na ocasião da última ditadura cívico-militar no país, tem se diversificado. Novos atores e deslocamentos para além das fronteiras da “família ferida” e da gramática do “afetado direto”  tem aparecido nesse campo e movimentado o cenário sociocultural do país vizinho nos últimos anos. O surgimento de um coletivo de filhas e filhos de ex-repressores que condenam os crimes contra os direitos humanos praticados pelos seus genitores e que buscam legitimar política e judicialmente sua voz na luta pela defesa dos processos de “memória, verdade e justiça” marca um dos eventos dessa nova lógica. Suscitar uma discussão preliminar pelo viés de gênero acerca das histórias individuais e dos traçados coletivos dos sujeitos conformados na agrupação “Historias desobedientes. Hijas e hijos de genocidas por la Memoria, la Verdad y la Justicia” é o objeto da presente proposta, a qual deriva de meu projeto de doutorado, recém-iniciado no Programa de Pós-Graduação de História da Universidade do Estado de Santa Catarina. Através de uma revisão bibliográfica sobre as produções acerca do tema “da desobediência” e de uma incursão sorteada por seus testemunhos, buscarei ensaiar alguns pontos relevantes que visam lançar luz aos fenômenos políticos da repressão e do autoritarismo da História do Tempo Presente latino-americana desde uma inédita perspectiva. Algumas considerações já são possíveis de se levantar: uma majoritária composição de mulheres na agrupação; a declarada militância feminista no interior do movimento; a denúncia pública da violência política desse passado autoritário desde uma lógica íntima e privada, cujos posicionamentos conscientes do presente retomam criticamente os gestos patriarcais e hétero-cis-normativos dessas famílias de militares genocidas, entre outros aspectos. Por isso, espera-se com este trabalho dialogar de modo mais geral com os campos de estudos da resistência, do gênero, das sexualidades e da memória no Cone Sul.

Palavras-chave: História do Tempo Presente latino-americana; estudos de gênero; filhas e filhos de repressores argentinos.

Lutos e lutas: mulheres a espera da verdade no pós ditadura.

Tásso Araújo de Brito

Na mitologia grega, as Erínias, também conhecidas como as Fúrias,atormentavam os culpados por crimes de sangue. Em algumas variações do mito, elas eram filhas de Nix, a deusa da noite e/ou escuridão. Tinham como um dos modos de punição perseguir o culpado berrando ao seu ouvido o(s) nome(s) da(s) vítima(s). No processo de transição à democracia brasileira e do cone sul, muitas mães, filhas e esposas  de desaparecidos políticos passaram a gritar ao ouvido do Estado o nome de seus entes queridos. Sendo o mais conhecido o grupo de Mães da Praça de Maio. Eram grupos que não conseguiram esquecer os mortos. Em muitos casos essas Erínias se contentariam apenas com os paradeiros dos corpos e uma certidão de óbito, desejosas em elaborar o luto para continuar a vida. A presente comunicação tem como objetivo apresentar considerações iniciais sobre uma investigação das ações dessas mulheres em busca do direito à verdade, à memória, às reparações financeiras e morais no Brasil da Nova República. 

Palavras-chave: Familiares de mortos e desaparecidos; justiça de transição; redemocratização.

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