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ST 6 - Intersseccionando Gênero, representações e mídias

Coordenação: Doutoranda Katharine Trajano (UFRPE) e Doutoranda Emelly Facundes (Universidade de Valência)

Através de um recorte transtemporal, este simpósio busca reunir pesquisas que versem sobre gênero, representações e mídias, traçando intersecções com as categorias de raça/cor, classe e/ou dissidências sexuais e de gênero no Brasil. No campo historiográfico, observamos um crescente debate no que tange o rompimento com uma postura masculinista e eurocentrada dos estudos históricos (SOIHET; PEDRO, 2007) em prol de análises que compreendam as 'complexidades sociais' sem generalizações (SCOTT, 1999) - com a possibilidade do uso de  metodologias feministas e decoloniais (CURIEL, 2020), também conexões com os estudos queer (VERAS, PEDRO, 2014) e os de 'sujeitos em situação de margem' (VEIGA, 2019). Nosso objetivo é compreender como se deram - através de múltiplas plataformas - as configurações de identidades generificadas, entendendo o gênero como ‘representação e como auto-representação’, nos termos de Teresa de Lauretis (1994), um "produto de diferentes tecnologias sociais" nas quais podem se inscrever literaturas, recursos audiovisuais, o cinema, as performances, novelas, revistas, jornais, entre outros. Para corroborar com a renovação de narrativas históricas, serão aceitos trabalhos que pensem nessas nuances, inclusive também os que dialoguem com tal campo a partir de uma abordagem interdisciplinar que tenha os marcadores sociais da diferença como prerrogativa de sua análise - sendo estes etnias, geração, escolarização, orientação sexual, religiosidades, etc. Dessa forma, buscamos agregar pesquisas e pesquisadores/as  que levem tais pressupostos em consideração ao analisarem experiências históricas/sociais/culturais/políticas durante o período da ditadura militar. Diante de um estado autoritário e repressor, as diversas formas de viver e existir se viram obrigadas a reinventar suas estratégias - recuperar e debater tais multiplicidades é enriquecer o saber histórico e feminista, indo além das fronteiras do aceitável num movimento transgressor que centraliza o saber como prática da liberdade (HOOKS, 2013).

 

BIBLIOGRAFIA

BIROLI, Flávia; MIGUEL, Luis Felipe. Feminismo e política: uma introdução. Boitempo Editorial, 2015.

COLLINS, Patricia Hill. Pensamento feminista negro: conhecimento, consciência e a política do empoderamento. Boitempo Editorial, 2019.

CURIEL, Ochy. Construindo metodologias feministas a partir do feminismo decolonial. In: HOLLANDA, Heloisa Buarque de. Pensamento feminista hoje: perspectivas decoloniais. 1ª ed. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2020.

De LAURETIS, Teresa. A tecnologia do gênero. In: BUARQUE DE HOLLANDA, H. (Org.). Tendências e Impasses: O Feminismo como crítica da cultura. Rio de Janeiro: Rocco, 1994, p. 206-242.

HOOKS, bell. Ensinando a transgredir: a educação como prática da liberdade. São Paulo: Ed. WMF Martins Fontes, 2013.

LUGONES, María. Colonialidad y género. Tabula rasa, n. 09, p. 73-101, 2008.
MOUFFE, Chantal. El retorno de lo político: comunidad, ciudadanía, pluralismo, democracia radica. Paidós Ibérica, 1999.

SCOTT, Joan W. Experiência. In: SILVA, Alcione da. et alli. Falas de Gênero. Florianópolis: Ed. Mulheres, 1999, pp.21-55.

SOIHET, Rachel; PEDRO, Joana Maria. A emergência da pesquisa da história das mulheres e das relações de gênero. Rev. Bras. Hist. [online]. 2007, vol.27, n.54, pp.281-300.
VEIGA, A. M.; PEREIRA VASCONCELOS, V. N. Lugares de escuta e de acolhimento nas pesquisas sobre sertanidades. Sæculum – Revista de História, v. 24, n. 41, p. 196-203, 15 dez. 2019.

VERAS, Elias Ferreira; PEDRO, Joana Maria. Os silêncios de Clio: escrita da história e (in) visibilidade das homossexualidades no Brasil. Revista Tempo e Argumento, v. 6, n. 13, p. 90-109, 2014.

Sessão 1 - Dia 21 de outubro de 2020, 14 horas

Gênero e Estudos Culturais: possibilidades de pesquisa na revista Rio Nú

Flávio Luan Freire Lemos

A comunicação se insere nas discussões acerca dos Estudos Culturais no âmbito das Ciências Humanas, com ênfase no debate epistemológico dos Estudos de Gênero. Analisaremos as principais categorias constituídas como também apresentaremos as possibilidades de pesquisa por meio da revista de “gênero alegre” Rio Nú. Na oportunidade, compreenderemos como os homens constroem o gênero, sexualidade e práticas sexuais na coluna “Concurso de Resposta”, publicada nas edições ao longo do ano de 1900. Admitimos como hipótese o uso dessa fonte como possibilitadora de análises acerca da construção social do gênero e sexualidade dos sujeitos na transição dos séculos XIX para o XX, momento histórico de modernização da sociedade brasileira aos moldes da Belle Époque, assim como suas contradições morais no processo de laicidade do Estado republicano. Conclui-se que discutir e analisar essas categorias é pensar as rupturas e permanências históricas na construção performativa dos gêneros e opressões sociais geradas.

Palavras-chave: Rio Nú. Estudos de Gênero. Ciências Humanas.

O caderno “Mulher” do jornal Gazeta de Alagoas (1980-1981): feminismo na imprensa de Maceió?  

Andressa de Oliveira Araújo

O presente trabalho pretende analisar a produção discursiva das mulheres e sobre as mulheres, presente no caderno “Mulher”, do Jornal Gazeta de Alagoas. Fundado em 1934, a Gazeta passou a pertencer à Organização Arnon de Mello em 1952, momento em que “esteve ativamente alinhado à articulação golpista de 1964” (Zaidan, 2010, p.02).  Todavia, no início da década de 1980, o jornal abordou temas até então censurados pela Ditadura Civil-Militar (1964-1985), como aborto, descriminalização do adultério, submissão das mulheres aos homens, situação das jovens universitárias e trabalhadoras, pílula anticoncepcional masculina, divórcio. Além dessas questões, o caderno "Mulher" apresentou na coluna “Mulher 80: Opinião”, que em 1981 passa a se chamar “Mulher 81: Opinião”, outros temas da agenda do movimento feminista do período, como machismo, violência doméstica, casamento, discriminação no ambiente de trabalho e privilégios concedidos aos homens. Nesta comunicação de pesquisa, pretendo analisar como muitas dessas abordagens se aproximavam daquelas pensadas a partir da luta feminista, principalmente, das operárias e intelectuais de esquerda do "feminismo mal comportado" (Pinto, 2003), que enfrentavam problemas relacionados ao corpo, à sexualidade, aos costumes e comportamentos, considerados tabus.

 

Palavras-chave: Imprensa; feminismo; discurso.

LIBERDADE, LIBERDADE, ABRE AS ASAS SOBRE NÓS: Exaltação da identidade feminina na voz de Rita Lee durante o processo de ditadura e a busca por equidade de direitos nas as composições de cantoras atuais.

Ana Maria Sousa Braga Vieira

O trabalho aqui inscrito visa dissertar acerca da legitimação do poder feminino através de letras de músicas cantadas por mulheres durante e após o período de repressão militar no Brasil – chamado Ditadura Militar – e como estas colaboraram e continuam colaborando como alicerce a movimentos feministas, contribuindo, à sua forma, para a manutenção de uma mentalidade e cenário social majoritariamente desigual em relação a igualdade de gênero e a própria figura de mulheres de etnias e culturas diferentes. As décadas de 60 e 70 são o grande enfoque deste trabalho, haja vista que nessa época ocorreram transformações em diversas áreas da sociedade, atingindo várias camadas sociais, incluindo a mulher, lhes proporcionando uma abertura rumo a um destino melhor que outrora. Tendo como objetivo maior discorrer sobre a constituição de uma memória social brasileira contemporânea no que concerne à construção de uma reestruturação cultural e social do país, através de leitura bibliográfica, bem como leitura de músicas de autoria da cantora Rita Lee, afim de contestar ideais machistas e exaltar a imagem da mulher em diversos âmbitos, primordialmente nas mídias culturais e sociais, como a música se mostra essencial desde a antiguidade.

Palavras-chave: mulheres, identidade, gênero, música, ditadura militar.

Ser mulher imigrante haitiana no Brasil em tempos de autoritarismo: trajetórias de vida e de luta.

Joselene Ieda dos Santos Lopes de Carvalho

Este trabalho faz parte de um recorte de minha tese de doutorado em que entrevistei imigrantes homens e mulheres haitianos de 2016 a 2020. Neste contexto, pude perceber que as mulheres imigrantes possuíam distinções claras em relação aos homens, inclusive no processo de imigração, quando o alto número de imigrantes chegavam do Haiti ao Brasil devido ao tráfico ilegal de pessoas e as mulheres destacavam terem sido vítimas de assédio moral e físico e em alguns casos até de estupro. Dessa forma, para essa apresentação busco destacar como mediante as pressões e limites, essas mulheres buscaram no Haiti e buscam atualmente no Brasil criar mecanismos de sobrevivência em um contexto autoritário em que a questão de gênero, classe e raça tornam-se ainda mais acentuadas às mulheres imigrantes e refugiadas de países considerados periféricos para o capitalismo. Deste modo, a partir da História oral, busco apresentar suas trajetórias de vida e de luta demonstrando como cotidianamente tentam sobreviver à estrutura autoritária no Brasil no pós-golpe de 2016 contra a presidenta eleita democraticamente, Dilma Rousseff, destacando que o preconceito racial e a xenofobia que já eram existentes, tornaram-se escancarados, principalmente em relação às mulheres imigrantes negras. 

Palavras-chave: Mulheres haitianas; imigrantes; autoritarismo no Brasil.

Sessão 2 - Dia 22 de outubro de 2020, 14 horas

“O amor não seria uma questão da educação?”: o cinema das sexualidades dissidentes em Mädchen In Uniform (1931), analisado através das teorias das masculinidades em Bell Hooks. 

Neff Borba 

Ao pensarmos sobre cinema dissidente, seria importante olharmos para o passado, analisando minuciosamente o surgimento destas alegorias fílmicas. Neste exercício, podemos olhar para a Berlim, ou melhor, para o movimento da República de Weimar (1919-1933), período visado pelos seus construtos políticos, mas apagando sua efervescência cultural. No cinema, local que pode juntar e despir ações significativas, é visto como uma alternativa para mulheres que observam as sexualidades (lidas como Queer, no período) como questões importantes para incorporar-se às narrativas da produção fílmica, que visava outras corporalidades e questões sobre o expressionismo alemão (1920), assim, Mädchen In Uniform possui origem no romance de Christa Winsloe (1888-1944), Mädchen Manuela, abordando sua experiência em um internato conservador, onde as meninas eram ensinadas a serem submissas e disciplinadas, no modelo escolar prussiano. Todavia, olhar para as instituições escolares, a partir dessa temática, mostra ao espectador como configura-se o sistema de ensino por métodos docializantes e excludentes. Seu romance foi transformado em peça teatral estreando em  1930, em Leipzig como “Ritter Nérestan”.
Ao estrear em Berlim, o título foi modificado para “Gestern und Heute” dirigido por Leontine Sagan (1889-1974), considerada uma das primeiras diretoras lésbicas da história (FOSTER. 1995, p. 323). O filme, lançado em novembro de 1931, chama vasta atenção por seu caráter inovador de possuir um elenco composto apenas por mulheres. Tal sistema aponta um processo de dominação vasto, e masculinista, desta forma, seria imprescindível utilizar como embasamento teórico as produções intelectuais de Bell Hooks (2000-2001-2004-2013) sobre educação, amor, cinema e masculinidades, como interface das questões do corpo na escola. A construção de uma cosmovisão feminista, é de suma importância  para compartilhar uma mensagem simples e poderosa para que observem que o movimento feminista é para a eliminação da opressão sexista, em todos os aspectos (HOOKS, 2000).

Palavras-chave: Cinema; Educação; Sexualidades Dissidentes; Bell Hooks. 

Gênero, pornochanchada e Jean Garrett

Katharine Trajano

Comumente, os estudos sobre o cinema e a ditadura civil-militar que problematizam as Pornochanchadas (comédias eróticas produzidas na região da Boca do Lixo, em São Paulo, entre os anos 60-80) reiteram os estigmas e estereótipos criados sobre os corpos que nestas se encontravam, especialmente, os das mulheres, ao se trabalhar o olhar voyeurístico e masculino que as dirigia e, por vezes, o de seu próprio público alvo. Entretanto, se invisibiliza nesse processo perspectivas outras que contrapunham as narrativas amplamente postas nesse gênero cinematográfico nacional, e é sobre estas que propomos debater no presente trabalho ao questionar: alguns filmes produzidos na Boca podem ser analisados dentro de um viés feminista no tocante à sua produção e às tecnologias de gênero? Para sanar tais dúvidas, sistematizamos os preceitos teóricos-metodológicos das autoras (e feministas) Teresa de Lauretis (1987), bell hooks (2019), assim como Judith Mayne (1993) e Janet Staiger (2000) – nomes fundamentais à História Social do Cinema. A partir daí, visamos discutir dentro dos horizontes contextualistas e históricos das Pornochanchadas o trabalho do cineasta português radicado no Brasil, Jean Garrett, responsável por centralizar em seus filmes personagens femininas transgressoras não apenas à moral e aos bons costumes, mas ao contexto de violência que vivenciavam.

Palavras-chave: História; Ditadura brasileira; Cinema brasileiro; Jean Garrett.

O costumes sob vigilância: a censura da telenovela “Selva de Pedra” (1972).

Thiago de Sales Silva

A presente comunicação se propõe a analisar as formas pelas quais o aparelho repressivo censório se debruçou sobre as questões relativas aos costumes e comportamentos, no contexto da ditadura militar brasileira, por meio do exame do processo de censura da telenovela “Selva de Pedra” (1972), de Janete Clair. Em meio à expansão da indústria cultural e dos veículos de comunicação de massa no país, alicerçada por fortes incentivos do governo autoritário, as telenovelas se popularizam entre o incipiente público telespectador. Por outro lado, a repressão às produções culturais por meio da Divisão de Censura e Diversões Públicas (DCDP), órgão ligado ao Ministério da Justiça, se consolida como um dos pilares de sustentação da ditadura, a partir do qual o tema dos costumes se delineia como constituinte do projeto de nação pensado pelos militares. A programação televisiva da época torna-se, portanto, alvo privilegiado de tal aparato. Considerada “contrária a instituição familiar”, como menciona um dos censores, “Selva de Pedra” teve sua narrativa reestruturada pela censura, conforme revelam pareceres, ofícios e correspondências analisadas nesta pesquisa. Com base nas contribuições de Joan Scott, compreendemos a categoria de gênero como fundamental para entender a tecitura das relações de poder. Desse modo, nos interessa refletir como, no âmbito do exercício censório, temáticas como o divórcio, amor livre e novos arranjos familiares, abordadas na TV, se tornaram objeto de segurança nacional, sobre as quais o regime então vigente precisou manter rigorosa vigilância e controle. 

Palavras-chave: Censura; telenovela; Gênero.

Televisão ou babá eletrônica: As tensões acerca do que seria a criança assistir na TV, na década de 1970.

Valesca Gomes Rios

A partir da década de 1970, uma série de mudanças aconteciam na sociedade brasileira, especialmente na classe média, entre elas, urbanização crescente nos grandes centros, a saída da mulher para o mercado de trabalho e a presença do aparelho de TV, assim como o desenvolvimento de programação pensada para diferentes públicos. As crianças foram um dos grupos de espectadores visados na construção da grade de programas, gerando discussão sobre o que era ou não adequado elas assistirem. Imprensa, discurso acadêmico e mesmo a Escola Superior de Guerra se preocupava com a criação de uma geração feita pela “babá eletrônica”, como a TV era chamada a época. Sob a perspectiva de gênero, este trabalho tem por objetivo analisar a construção de argumentos, principalmente contrários, acerca do uso da televisão por crianças. Para tal problematização, revistas como “Pais e Filhos”, livros de psicólogos e o Manual Básico da Escola Superior de Guerra (ESG). A discussão se coloca no campo do político, uma vez que a discussão acerca do privado, dos hábitos e da estrutura familiar relacionava-se com o projeto de nação que se tinha a época. Para essa discussão, os estudos de gênero são chaves de leitura para entender o que se entendia como os papéis de homens e mulheres dentro da família e da sociedade. O período desta comunicação é compreendido no momento em que estava em curso uma Ditadura Militar que se apoiava no argumento de manter certos valores da nação, entre eles, a família. Logo, é de interesse pensar sobre os modos como se pensou a televisão na participação dos novos hábitos da família, em especial, das crianças.

Palavras-chave: Ditadura Militar; televisão; gênero; infância.

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